(José Pacheco Pereira tem sido impiedoso no modo como causticamente analisa o rejuvenescimento da classe política, essencialmente concretizado a partir da fonte das juventudes partidária. Nos últimos tempos tem sido um fartar vilanagem de evidências seguras sobre esta matéria, a qual, sublinhe-se, é atribuída ao grosso da classe política que tem passado pela governação. O PS está obviamente na berlinda, já que acumula um período relativamente longo de permanência no governo, tal como Pacheco Pereira, crítico do seu próprio, bem o assinala. O inquérito parlamentar à TAP é um baú imenso de preciosidades nesta matéria e muitas outras revelações irão estar disponíveis. Num contexto em que a melhoria de qualificações da população mais jovem é um dado indiscutível da sociedade portuguesa, o rejuvenescimento bafiento da classe política a que temos assistido, uma de duas, ou é fruto de um sistema de ensino que ainda não conseguiu gerir o equilíbrio entre qualidade e quantidade a favor da primeira, ou então a generalidade dos jovens qualificados portugueses não quer nada com a política e afasta-se olimpicamente destas lides. Devo confessar que estou bem mais próximo da segunda possibilidade do que da primeira.)
Nesta matéria, a gravidade do que vai aparecendo a público em termos de nova classe política justifica que se seja duro, curto e grosso. Assim o é Pacheco Pereira na sua crónica de hoje no Público e vale a pena citá-lo com a devida vénia ao jornal e ao analista:
“(…) Este diálogo é um sintoma do modo como nos partidos de poder se está a dar a ascensão e a construção de carreira, que já chega a cargos de governação, de gente que não tem sequer competência para gerir a arrumação de uma esplanada, com pedido de desculpa aos arrumadores de esplanadas. Tudo transpira uma absoluta mediocridade, um fala-baratismo que é hoje parte da pseudo-educação de muita gente nas redes sociais, e uma total falta da noção de Estado, uma coisa vaga, mas que, quando não se tem, brilha no escuro. Acresce que muitos dos políticos atuais que vêm das “jotas” vivem de dizer enormidades nas redes sociais, que os jornalistas amigos valorizam em tweets e na imprensa. São todos muito engraçadinhos”.
Concordando com o sentido geral da análise, recuso-me a aceitar que esta seja uma imagem real da melhoria de qualificação que temos observado na população mais jovem. Sendo assim, coloca-se a questão de saber como poderemos atrair à política os mais capazes? Deixá-los fazer o seu tirocínio profissional e criar então condições para valorizar esse capital de qualificação e experiência? Mas será que os arrivistas precoces irão permitir essa renovação entre os mais novos a partir dos lugares de poder que vão entretanto ocupando?
Tenho dúvidas, muitas dúvidas.
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