sábado, 28 de dezembro de 2013

A FRENTE ATLÂNTICA E O AUDIOVISUAL



Como todos sabemos os Presidentes Rui Moreira (Porto), Guilherme Pinto (Matosinhos) e Eduardo Rodrigues (Vila Nova de Gaia) decidiram cooperar no âmbito do que talvez tenha sido designado de Frente Atlântica (FA), no fundo uma mini-liga de cidades, já anunciada nos seus princípios básicos no programa eleitoral de Rui Moreira. A iniciativa vale pelo que vale, essencialmente a meu ver uma política de contiguidade territorial, e penso que deveremos aguardar pelos seus desenvolvimentos programáticos que tenham reflexos na vida dos cidadãos que se distribuem entre residência, emprego e lazer por estes três concelhos. Sabemos que os portugueses (e os autarcas não são exceção) deleitam-se mais com a criação de novas instituições, mesmo que não saibam depois muito bem o que fazer das mesmas), do que propriamente com a  revitalização das existentes (Área Metropolitana do Porto), atribuindo-lhe coerência e aumentando a sua eficácia. Por isso, mantive-me na expectativa esperando realizações e iniciativas concretas.
Mas eis senão que o meu Amigo Artur Castro Neves (ACN) que sabe muito destas coisas do audiovisual e multimédia e que tem partilhado comigo reflexões territoriais sobre a Área Metropolitana do Porto (“Políticas Públicas e Regulação no Setor Audiovisual e Multimédia – Navegar na língua portuguesa”, Porto, Edições Afrontamento, 2012) me chamou a atenção com um texto estimulante, comentando com a argúcia e finura que lhe são próprias uma posição assumida pela recente Frente Atlântica. De acordo com o que se leu nos jornais, ACN situa a decisão nestes termos: a FA terá reivindicado à luz da defesa de um regionalismo pluralista a deslocalização da RTP2 para o Centro de Produção do Monte da Virgem, rejeitando em simultâneo os canais internacionais da RTP.
Refiro aqui a argumentação de ACN porque ela parte de um princípio que me é extremamente caro, embora tenha de confessar a minha incapacidade de mobilizar gente pensante com capacidade de intervenção política para a defesa da mesma: “É saudável começar por estabelecer uma diferença entre as políticas audiovisuais e multimédia de uma Região e a participação dessa Região na política audiovisual e de multimédia nacional”. Esta subtil diferença é sobretudo fundamental e ACN partilha comigo a convicção de que a defesa de um projeto regional não deve eliminar a possibilidade de pensar o nacional e nele intervir a partir de um dado território.
ACN insurge-se e bem contra o que está subjacente à decisão da FA. A reivindicação da deslocalização da RTP2 para o Centro do Monte da Virgem só faria sentido no quadro de uma “estratégia de participação nacional da Região Norte na política audiovisual e multimédia do Governo, não se compreendendo a rejeição dos canais internacionais, a pretexto de uma reivindicação de pluralismo regional. A oportunidade de mexer radicalmente na ambição dos canais internacionais da RTP a partir de uma conceção cosmopolita e internacionalizada que o Norte pode bem assumir deveria ser ponderada, maximizando o potencial económico-cultural da língua portuguesa. Mas tal posição não implica que o Norte, e não será obviamente apenas os 3 municípios da FA, não possa aspirar a um canal regional, autónomo, desejavelmente concebido e concretizado com recursos da Região e não dependente de um cada vez mais depauperado Orçamento de Estado. E aqui ACN bate num ponto nevrálgico, que partilho, e que nos tem causado algumas más interpretações. O Norte tem recursos, capacidades, competências e inteligência para otimizar uma iniciativa privada como o Porto Canal garantindo-lhe uma maior largueza de perspetivas e um rasgo mais universalista. De regionalismos bacocos e serôdios estamos nós cheios. Entretanto, quer num modelo ou outro, o potencial económico e educativo da língua portuguesa continua à mercê do(a)s tias de Cascais que povoam o Ministério dos Negócios Estrangeiros, tão mundan(o)as que ele(a)s se julgam, mas com mapas mentais, geográficos e de ideias, bem restritos, coitado(a)s.
Caro Artur, a tua finura de espírito continua a surpreender-me e estou-te grato por a partilhares comigo.
Um abraço e Feliz 2014.

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