Como todos sabemos os Presidentes Rui Moreira
(Porto), Guilherme Pinto (Matosinhos) e Eduardo Rodrigues (Vila Nova de Gaia)
decidiram cooperar no âmbito do que talvez tenha sido designado de Frente Atlântica
(FA), no fundo uma mini-liga de cidades, já anunciada nos seus princípios básicos
no programa eleitoral de Rui Moreira. A iniciativa vale pelo que vale, essencialmente
a meu ver uma política de contiguidade territorial, e penso que deveremos
aguardar pelos seus desenvolvimentos programáticos que tenham reflexos na vida
dos cidadãos que se distribuem entre residência, emprego e lazer por estes três
concelhos. Sabemos que os portugueses (e os autarcas não são exceção)
deleitam-se mais com a criação de novas instituições, mesmo que não saibam
depois muito bem o que fazer das mesmas), do que propriamente com a revitalização
das existentes (Área Metropolitana do Porto), atribuindo-lhe coerência e
aumentando a sua eficácia. Por isso, mantive-me na expectativa esperando
realizações e iniciativas concretas.
Mas eis senão que o meu Amigo Artur Castro Neves (ACN)
que sabe muito destas coisas do audiovisual e multimédia e que tem partilhado
comigo reflexões territoriais sobre a Área Metropolitana do Porto (“Políticas Públicas
e Regulação no Setor Audiovisual e Multimédia – Navegar na língua portuguesa”,
Porto, Edições Afrontamento, 2012) me chamou a atenção com um texto
estimulante, comentando com a argúcia e finura que lhe são próprias uma posição
assumida pela recente Frente Atlântica. De acordo com o que se leu nos jornais,
ACN situa a decisão nestes termos: a FA terá reivindicado à luz da defesa de um
regionalismo pluralista a deslocalização da RTP2 para o Centro de Produção do
Monte da Virgem, rejeitando em simultâneo os canais internacionais da RTP.
Refiro aqui a argumentação de ACN porque ela
parte de um princípio que me é extremamente caro, embora tenha de confessar a
minha incapacidade de mobilizar gente pensante com capacidade de intervenção
política para a defesa da mesma: “É saudável começar por estabelecer uma diferença entre as
políticas audiovisuais e multimédia de uma Região e a participação dessa Região
na política audiovisual e de multimédia nacional”. Esta subtil
diferença é sobretudo fundamental e ACN partilha comigo a convicção de que a
defesa de um projeto regional não deve eliminar a possibilidade de pensar o
nacional e nele intervir a partir de um dado território.
ACN insurge-se e bem contra o que está subjacente
à decisão da FA. A reivindicação da deslocalização da RTP2 para o Centro do
Monte da Virgem só faria sentido no quadro de uma “estratégia de participação
nacional da Região Norte na política audiovisual e multimédia do Governo, não
se compreendendo a rejeição dos canais internacionais, a pretexto de uma
reivindicação de pluralismo regional. A oportunidade de mexer radicalmente na
ambição dos canais internacionais da RTP a partir de uma conceção cosmopolita e
internacionalizada que o Norte pode bem assumir deveria ser ponderada,
maximizando o potencial económico-cultural da língua portuguesa. Mas tal posição
não implica que o Norte, e não será obviamente apenas os 3 municípios da FA, não
possa aspirar a um canal regional, autónomo, desejavelmente concebido e
concretizado com recursos da Região e não dependente de um cada vez mais
depauperado Orçamento de Estado. E aqui ACN bate num ponto nevrálgico, que
partilho, e que nos tem causado algumas más interpretações. O Norte tem
recursos, capacidades, competências e inteligência para otimizar uma iniciativa
privada como o Porto Canal garantindo-lhe uma maior largueza de perspetivas e
um rasgo mais universalista. De regionalismos bacocos e serôdios estamos nós
cheios. Entretanto, quer num modelo ou outro, o potencial económico e educativo
da língua portuguesa continua à mercê do(a)s tias de Cascais que povoam o Ministério
dos Negócios Estrangeiros, tão mundan(o)as que ele(a)s se julgam, mas com mapas
mentais, geográficos e de ideias, bem restritos, coitado(a)s.
Caro Artur, a tua finura de espírito continua a
surpreender-me e estou-te grato por a partilhares comigo.
Um abraço e Feliz 2014.
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