Num número da Visão que nos presenteia com uma crónica
de António Lobo Antunes e uma longa entrevista com o escritor no aconchego da sua
casa no Conde de Redondo, José Gil publica uma estimulante crónica sobre o
impacto da crise e da má governação na identidade mais profunda dos
portugueses. O filósofo parte da nossa característica intrínseca de nos darmos
ao outro e da nossa profunda capacidade de com ele interagir. Ora um dos efeitos
mais perniciosos da atual governação é colocar diferentes classes e tipos de
portugueses contra outros portugueses, acirrando diferenças, provocando falsas
disputas, desconstruindo a confiança das relações pessoais, interinstitucionais
e das relações entre diferentes estatutos na sociedade portuguesa.
Uma das consequências mais profundas desta desconstrução
arbitrária e sem sentido é projetar os portugueses para o seu recôndito mais íntimo,
numa relação estritamente consigo próprios, negando a sua característica identitária
mais intrínseca.
Ora, por mais apelativa e convincente que a
retoma possa manifestar-se, os custos identitários são graves já que não se
recuperam facilmente com retomas simplesmente económicas, desprovidas de
confiança.
A palavra aos filósofos e pensadores, já que os
economistas já há algum tempo perderam essa matriz, pelo menos no corpo
instalado que valida as políticas em curso.
Sem comentários:
Enviar um comentário