sábado, 14 de dezembro de 2013

SALÁRIO MÍNIMO



Como é conhecido, o tema do salário mínimo e do seu aumento tem constituído uma das mais profundas originalidades das controversas relações entre a concertação social em Portugal e o governo. Trata-se de matéria onde não é difícil chegar a acordo entre os parceiros sociais mas que o governo tem-se recusado a aceitar como terceiro elemento da concertação, escudando-se ambiguamente seja nos ditames da Troika, seja nos problemas da competitividade empresarial. Recentemente e no plano internacional, é matéria em alta já que o acordo de governo entre a CDU e o SPD na Alemanha inscreveu o salário mínimo na futura legislação alemã e na administração Obama está em discussão o aumento do salário mínimo para 10,10 dólares /hora, perante a fúria reativa dos Republicanos.
Até aqui a reatividade à existência do salário mínimo e as reservas quanto ao seu aumento têm constituído um fator de divisão entre os economistas do trabalho, baseando-se os detratores no contributo do salário mínimo para a rigidez do mercado de trabalho, indesejável em tempos de desemprego generalizado e de peso do desemprego de longa duração. É comum o argumento de que o aumento do salário mínimo conduzirá a maior desemprego, especialmente entre os trabalhadores com baixas qualificações e trabalhando em faixas de baixos salários.
Com data de ontem, o Economix do New York Times (Explaining the Science to Everyday Life) publica um importante artigo de Laura d’Andrea Tyson sobre esta matéria. Tyson não é uma economista qualquer, pois professora na reputada Haas School of Business da Universidade da Califórnia presidiu ao Grupo de Conselheiros Económicos do governo do Presidente Clinton.
O que o artigo de Tyson faz é invocar moderna investigação empírica para mostrar que aumentos com alguma expressão no salário mínimo não determinam efeitos relevantes no emprego, deteriorando-o. Dube (Massachussets-Anherst), Lester (Carolina do Norte) e Reich (Berkeley) estudaram a economia americana durante cerca de duas décadas e encontraram evidências seguras de que os aumentos de salário mínimo aumentaram os rendimentos de trabalhadores com baixos salários, sem efeito relevante sobre o emprego. A tendência de opinião entre os economistas tem assim invertido a ideia de que o aumento de salário é desfavorável ao emprego, para além do efeito sobre os preços rondar meio ponto percentual. Mas em tempos de “zero lower bound” das taxas de juro e ameaças de deflação quem se atreverá a zurzir nos riscos inflacionistas do aumento do salário mínimo.
Os economistas americanos continuam a liderar a onda de viragem no pensamento económico.

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