Como é conhecido, o tema do salário mínimo e do
seu aumento tem constituído uma das mais profundas originalidades das
controversas relações entre a concertação social em Portugal e o governo. Trata-se
de matéria onde não é difícil chegar a acordo entre os parceiros sociais mas
que o governo tem-se recusado a aceitar como terceiro elemento da concertação,
escudando-se ambiguamente seja nos ditames da Troika, seja nos problemas da
competitividade empresarial. Recentemente e no plano internacional, é matéria
em alta já que o acordo de governo entre a CDU e o SPD na Alemanha inscreveu o
salário mínimo na futura legislação alemã e na administração Obama está em
discussão o aumento do salário mínimo para 10,10 dólares /hora, perante a fúria
reativa dos Republicanos.
Até aqui a reatividade à existência do salário mínimo
e as reservas quanto ao seu aumento têm constituído um fator de divisão entre
os economistas do trabalho, baseando-se os detratores no contributo do salário
mínimo para a rigidez do mercado de trabalho, indesejável em tempos de
desemprego generalizado e de peso do desemprego de longa duração. É comum o
argumento de que o aumento do salário mínimo conduzirá a maior desemprego,
especialmente entre os trabalhadores com baixas qualificações e trabalhando em
faixas de baixos salários.
Com data de ontem, o Economix do New York Times (Explaining the Science to Everyday Life)
publica um importante artigo de Laura d’Andrea Tyson sobre esta matéria. Tyson
não é uma economista qualquer, pois professora na reputada Haas School of Business da Universidade da Califórnia presidiu ao
Grupo de Conselheiros Económicos do governo do Presidente Clinton.
O que o artigo de Tyson faz é invocar moderna
investigação empírica para mostrar que aumentos com alguma expressão no salário mínimo não determinam efeitos relevantes no emprego, deteriorando-o. Dube (Massachussets-Anherst), Lester (Carolina do Norte) e Reich (Berkeley)
estudaram a economia americana durante cerca de duas décadas e encontraram evidências
seguras de que os aumentos de salário mínimo aumentaram os rendimentos de
trabalhadores com baixos salários, sem efeito relevante sobre o emprego. A tendência
de opinião entre os economistas tem assim invertido a ideia de que o aumento de
salário é desfavorável ao emprego, para além do efeito sobre os preços rondar
meio ponto percentual. Mas em tempos de “zero
lower bound” das taxas de juro e ameaças de deflação quem se atreverá a
zurzir nos riscos inflacionistas do aumento do salário mínimo.
Os economistas americanos continuam a liderar a
onda de viragem no pensamento económico.
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