sábado, 21 de dezembro de 2013

A OPOSIÇÃO DO PS É CREDÍVEL?



José Pacheco Pereira (JPP) no último Quadratura do Círculo e hoje, no Público, de forma mais estruturada e sem a encenação das moedinhas e do desenho para a câmara e para os olhares atónitos de Carlos Andrade, António Costa e Lobo Xavier, nunca tinha ido tão longe na sua crítica ao PS, à sua liderança atual e às cabeças pensantes que o assessoram em matéria económica.
Tenho de confessar que, nos últimos tempos de radicalização da crítica de JPP à governação atual, foi desta vez que tive mais dificuldade em aderir aos argumentos apresentados, mais na reação a quente ao programa da SIC Notícias e menos na leitura do artigo de hoje.
A razão mais substancial para a não adesão imediata às teses de JPP situa-se sobretudo no facto da crítica contundente à credibilidade da oposição política do PS ao atual governo se basear na extrapolação que JPP faz do acordo assinado pelo PS quanto ao novo código do IRC. Não me custa admitir que a liderança do PS pode não ter avaliado bem o significado de assinar, embora negociando, tal acordo, sobretudo porque o mesmo teria no Conselho de Concertação Social o espaço institucional ideal para ter sido consumado e não necessariamente através de um acordo interpartidário. Claro que uma outra hipótese é sustentar que a liderança do PS avaliou bem esse significado e, nesse caso, o significado seria completamente diferente. Tenho dificuldade em alinhar com juízos de intenção dessa natureza.
O PS terá intuído que sendo governo muito provavelmente teria de aprovar um diploma não necessariamente igual mas inspirado pelos mesmos objetivos de garantir aos investidores nacionais e estrangeiros uma estabilidade fiscal de médio-longo prazo. E assim sendo mais valeria assiná-lo desde já, mesmo correndo o risco de suportar o seu significado. Como é óbvio, esta avaliação pode traduzir que o PS está de facto pouco seguro quanto ao timing em que pretende candidatar-se ao exercício do poder e também pouco confiante quanto à possibilidade de ver a maioria absoluta referendada nas urnas pelos portugueses.
Mas há um aspeto a que sou sensível. Um partido de governação e de poder como o PS pode e deve combater abusos de desigualdade e desequilíbrio de relações de forças entre o capital e o trabalho, que a abordagem do ajustamento e da austeridade tem como JPP bem o denuncia exacerbado para além do admissível e não apenas em Portugal. Mas não pode de modo algum incompatibilizar-se com os empresários e as empresas, pois a desejada viragem do crescimento não pode deixar de ser baseada no contributo empresarial, tanto mais que o universo de empresas em Portugal é muito desigual e não é um tecido abstrato de PME que pode assegurar essa viragem. A criação de um ambiente de estabilidade e atratividade fiscal faz parte da criação dessas condições de facilitação do investimento.
Como é óbvio, não estamos perante uma reforma fiscal abrangente e coerente e, nas condições atuais, não mexer no IRS e no IVA, mantendo-os em carga tão elevada, tem necessariamente uma leitura política. Mas nas condições de incompressibilidade de algumas despesas sociais, uma consolidação orçamental mais lenta e menos abrupta do que a que foi ensaiada com enormes custos terá sempre de assegurar capacidade de arrecadação de receitas fiscais. Por isso, qualquer governação alternativa à atual terá dificuldades em promover de forma imediata a redução da carga fiscal. Além disso, como Lobo Xavier pertinentemente o assinalou, reduzir a carga fiscal sobre a lucratividade do investimento não significa isentar os detentores desses lucros da necessidade de contribuir para o esforço fiscal.
Quanto à autoestrada que se abriu com as políticas de austeridade a uma profunda transformação das relações entre o capital e o trabalho, sobretudo entre o capital financeiro e o trabalho, JPP tem todas as condições para a denunciar, colocando-se do ponto de vista dos ideários social-democrata e socialista. Mas isso não chega. É necessário criar uma alternativa nesses ideários à abordagem em curso sobre os tais ajustamentos que JPP tanto abomina. Mas aqui, JPP que me perdoe, mas o seu contributo para germinar essa alternativa tem sido nulo. A história e a visão do historiador pode por certo ajudar-nos. Mas não chega.

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