A evocação de Willy Brandt pelo colega Freire de
Sousa e sobretudo a referência e imagem do monumento na Marechal Gomes da Costa
ao estadista alemão, de cuja visão política a Europa continua órfã, fez-me
invocar algumas memórias, num tema que aparentemente me é distante.
Na altura em que foi decidida a colocação do
monumento a Brandt na cidade do Porto, desempenhava funções de consultor para o
desenvolvimento económico e políticas urbanas do então Presidente da Câmara
Municipal do Porto, Dr. Fernando Gomes. Recordo-me que no grupo de pessoas que
trabalhava e aconselhava o Presidente havia dúvidas sobre o significado político
do Porto assumir a responsabilidade de recordar a memória de Willy Brandt. Imagino
hoje que, por força de alguma pré-auscultação de opinião na Cidade (que haveria
de manifestar-se depois em algumas tentativas iniciais de vandalização do
monumento), alguns dos conselheiros não encontravam uma relação de proximidade
do Porto e da sua história com o estadista alemão e daí as suas dúvidas.
Na altura, defendi com alguma veemência a instalação
do monumento, não numa perspetiva de relação estreita do Porto com a
personalidade e ação política de Brandt, mas sim numa perspetiva de abertura do
Porto ao mundo e sobretudo no que representava a Cidade homenagear um dos artífices
da construção democrática alemã. Só hoje compreendo como a intuição de então
haveria de ser confirmada pela progressiva desertificação do universo de personagens
políticas que haveriam de suceder a Willy Brandt. Mas o monumento lá está,
provavelmente hoje perdido na indiferença dos que frequentam tão afluente
avenida urbana.
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