(Boletim Económico de Inverno do Banco de Portugal)
A publicação praticamente em simultâneo dos dados aprofundados do INE sobre o comportamento da economia portuguesa no terceiro
trimestre de 2013 e do Boletim Económico de Inverno do Banco de Portugal traz
boas e más notícias, podendo acomodar uma perspetiva algo ambivalente sobre o
que nos espera em período tão crítico.
Comecemos pelas boas notícias.
A ténue recuperação da economia portuguesa em
termos globais confirma-se, o que mostra que apesar da dimensão
desproporcionada da consolidação orçamental e das inconsistências da governação
o ciclo económico existe. Como a maioria dos economistas com um mínimo de
lucidez têm vindo a avançar, a recuperação de algumas economias europeias,
entre as quais a portuguesa, não quer dizer que as políticas de austeridade estejam
a produzir bons resultados. Mostra simplesmente que a recuperação poderia ser
mais intensa e mais rápida se essa austeridade fosse mais doseada. Mas o que é
algo surpreendente no terceiro trimestre é que o crescimento praticamente nulo
de 0,2% não é devido às exportações, mas sim explicado pela ténue recuperação
do consumo e do investimento. Consumo e investimento responderam por 1,3 pontos
percentuais do PIB. Como se esperava, em termos homólogos, é o recuo da procura
interna que explica a variação negativado PIB em 1%. Pelos números do INE, a ténue
recuperação passa essencialmente pelos bens de consumo duradouros, entre os
quais a compra de automóveis. As famílias com maior capacidade de compra
parecem ter antecipado em 2013 aquisições de bens, certamente projetando as más
expectativas que se anunciam para 2014 com o impacto recessivo do orçamento.
Por outro lado, o Boletim Económico de Inverno do
Banco de Portugal, para além de rever em baixa o ritmo recessivo para 2013,
analisa em particular o comportamento das exportações e das empresas
exportadoras para o período 2007-2012, a partir do tratamento de dados da
Informação Simplificada das Empresas.
O estudo do Banco de Portugal permite clarificar
melhor o que temos aqui designado de resiliência das exportações portuguesas em
tempos difíceis de quebra do mercado europeu e de forte concorrência nos
mercados emergentes.
Vale a pena individualizar algumas conclusões do
referido estudo:
- As empresas que permanecem na exportação apresentam produtividades do trabalho (e também dimensões, salários e rácios capital/trabalho) mais elevadas do que as que acabam de chegar à exportação e estas, por sua vez, mais elevadas do que as que permanecem no mercado interno;
- São as empresas que permanecem na exportação que contribuem mais para o crescimento nominal das exportações; as empresas que operam há mais de 20 anos e que se mantêm nos mercados externos pelo menos dois anos consecutivos respondem por 2,5 pontos percentuais do crescimento médio observado de 6,3% no período 2007-12;
- Porém, no período 2010-12, as empresas mais novas (1 a 10 anos de idade) respondem já por mais de metade do crescimento nominal observado nas exportações;
- 25% das exportações de 2012 decorrem de empresas criadas depois de 2000.
Estamos assim perante fenómenos de resiliência e
aprendizagem dos mercados externos, mas também de uma efetiva mudança
estrutural na economia portuguesa. Boas notícias, mas processos não automáticos,
que exigem tempo de aprendizagem e oportunidades concretas de abertura dos
mercados. Não por acaso, 2009, ano de colapso do comércio mundial, foi também o
ano de menor ritmo de exportação.
E as más notícias?
Os dados do INE mostram que, no terceiro
trimestre de 2013, apesar da criação de emprego continuar anémica, o
crescimento ténue observado foi conseguido com diminuição da produtividade
(produto por pessoa empregada). Apesar de nas condições vigentes no mercado de
trabalho, o cálculo da produtividade se deva fazer por hora trabalhada e não
por pessoa empregada, a baixa da produtividade é um mau sinal, sobretudo
atendendo à enorme destruição de empregos a que a economia portuguesa tem sido
votada. Se mesmo nestas condições a produtividade baixa, estamos perante um
problema estrutural efetivo. O facto mostra também que os progressos de alocação
de recursos para os mercados externos com produtividades mais altas nessas
empresas não são suficientes para produzir um comportamento global mais favorável
da produtividade do trabalho. E isso sim é uma má notícia, pois abre caminho
aos abutres da descida de salários.
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