domingo, 29 de dezembro de 2013

INUNDAÇÕES E SOBRECORTES DE DESPESA PÚBLICA



O Reino Unido e a política económica e orçamental de Cameron – Osborne ocupam neste blogue um lugar de enorme relevo. O Reino Unido com moeda própria e internacionalmente reconhecida, boas condições de financiamento e dívida pública perfeitamente controlada constitui um exemplo inequívoco da cegueira austeritária, com sobrecortes desproporcionados da despesa pública, num país que começa a revelar alguns sinais de insuficiência de infraestruturas, não na Londres de toda a concentração, mas no Reino Unido mais profundo.
O Mainly Macro de Simon Wren-Lewis faz eco da reação pouco amigável que Cameron encontrou no terreno, em visita oficial aos lugares e “counties” mais atingidos pelas devastadoras inundações que a inclemência de um inverno recém-chegado provocou por todo o país. E pelos números que Wren-Lewis apresenta essa receção pouco amigável e até hostil bem se compreende sobretudo pelo desinvestimento que a proteção contra cheias e inundações, estimado pelo prestigiado economista de Oxford numa queda em termos reais de 20% após 2010, data de chegada ao poder do governo conservador: “Assim, em vez de continuar a investir para abordar uma ameaça crescente, o governo cortou despesa no quadro do seu programa de austeridade”. 
Como resultado de uma pura ideologia macroeconómica, os cidadãos britânicos atingidos pelas devastadoras inundações pagarão com as obras a realizar e o aumento dos seus seguros o preço de um dos mais despudorados erros de política económica, postos a nu não por economistas radicais, mas por economistas que não adaptam evidências aos seus preconceitos, antes pelo contrário procuram explicações consistentes para as mesmas. Não consta que o governo Cameron-Osborne tenha uma conceção agnóstica das mudanças climáticas e seus perigos e exigências de defesa. Por isso, o sobre corte de despesa é calculado e premeditado. Espanta-me que a hostilidade da receção não tenha sido ainda mais violenta.

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