O Reino Unido e a política económica e orçamental
de Cameron – Osborne ocupam neste blogue um lugar de enorme relevo. O Reino Unido
com moeda própria e internacionalmente reconhecida, boas condições de
financiamento e dívida pública perfeitamente controlada constitui um exemplo
inequívoco da cegueira austeritária, com sobrecortes desproporcionados da
despesa pública, num país que começa a revelar alguns sinais de insuficiência
de infraestruturas, não na Londres de toda a concentração, mas no Reino Unido
mais profundo.
O Mainly Macro de Simon Wren-Lewis faz eco da reação pouco amigável que Cameron
encontrou no terreno, em visita oficial aos lugares e “counties” mais atingidos pelas
devastadoras inundações que a inclemência de um inverno recém-chegado provocou
por todo o país. E pelos números que Wren-Lewis apresenta essa receção pouco
amigável e até hostil bem se compreende sobretudo pelo desinvestimento que a
proteção contra cheias e inundações, estimado pelo prestigiado economista de
Oxford numa queda em termos reais de 20% após 2010, data de chegada ao poder do
governo conservador: “Assim, em vez de continuar a investir para abordar uma
ameaça crescente, o governo cortou despesa no quadro do seu programa de
austeridade”.
Como resultado de uma pura ideologia macroeconómica,
os cidadãos britânicos atingidos pelas devastadoras inundações pagarão com as
obras a realizar e o aumento dos seus seguros o preço de um dos mais
despudorados erros de política económica, postos a nu não por economistas
radicais, mas por economistas que não adaptam evidências aos seus preconceitos,
antes pelo contrário procuram explicações consistentes para as mesmas. Não
consta que o governo Cameron-Osborne tenha uma conceção agnóstica das mudanças
climáticas e seus perigos e exigências de defesa. Por isso, o sobre corte de
despesa é calculado e premeditado. Espanta-me que a hostilidade da receção não
tenha sido ainda mais violenta.
Sem comentários:
Enviar um comentário