No aconchego da família, ainda que a tribo não
esteja totalmente reunida, é difícil blogar e por isso alguma ausência e
sobretudo o desejo de Festas Felizes a todos os que nos concedem a especial
honra de visitarem este espaço.
Mas mesmo neste ambiente de desincentivo à
escrita, surge uma pequena oportunidade para alguma reflexão concretizada em
torno de uma crónica de Jared Bernstein no New York Times, ex-economista chefe do Vice Presidente
americano Joseph Biden.
O tema é oportuno e cruza-se com o tema central
da estagnação secular que tem marcado a blogosfera económica no último mês,
fruto da sucessão de réplicas que a intervenção de Lawrence Summers na conferência
do FMI do último novembro provocou. O epicentro da discussão é a economia
americana mas isso não lhe retira a importância inequívoca que tem vindo a
ganhar. Tim Taylor tem uma boa introdução ao tema. O próprio Summers já a ele voltou.
Enquanto a grande recessão de 2007 não abalou os
princípios estabelecidos, as crises e os ciclos económicos eram frequentemente
interpretados como o resultado da comparação entre o produto real da economia e
o seu produto potencial. Este último, para além das dificuldades da sua medida,
é conceptualmente definido de forma expedita como o máximo produto que uma dada
economia pode obter em determinado ano se todos os recursos estiverem
plenamente utilizados. Sabemos que a plena utilização dos recursos é compatível
com uma taxa de desemprego positiva que alguns designam de taxa de desemprego
natural, pois o desemprego zero é algo estatisticamente impossível de obter. O
produto potencial ao longo do tempo corresponde ao que os economistas designam
como o crescimento tendencial da economia (o trend do PIB real).
Até à grande recessão os ciclos económicos eram
apresentados como algo que se projetava nas diferenças entre PIB real e PIB potencial:
as expansões regra geral vinham associadas a crescimentos dessa diferença
positiva e as recessões ao seu contrário, ou seja a diferenças negativas com
propensão para se tornarem mais negativas. Em súmula, os ciclos económicos
projetar-se-iam nos desvios em relação ao trend,
regra geral positivos em expansões e negativos em recessões.
O que o artigo de Bernstein vem realçar é que após
2007 o comportamento do produto potencial da economia americana altera-se
substancialmente. Se projetarmos o PIB americano apenas com dados até esse ano,
a curva do PIB potencial tem um comportamento bem mais favorável do que se o
projetarmos incluindo toda a informação até aos nossos dias.
É uma outra forma de falar de estagnação secular
como Summers a canonizou. Várias razões podem estar a contribuir para a redução
da dinâmica do produto potencial da economia americana: trabalho (demografia) e
capital (baixa propensão ao investimento) podem estar a apresentar um
subcontributo para o crescimento económico; o progresso técnico pode estar a atravessar
uma fase de interrogação na sua dinâmica de geração de efeitos de inovação e de
novas atividades motoras; a procura global pode estar estruturalmente contraída
com essa contração ampliada pela estupidez de políticas de austeridade para além
do necessário; a desigualdade na distribuição do rendimento pode estar a
bloquear o crescimento.
Quaisquer que sejam os fatores a marcar a
explicação, admitir que o produto potencial das economias tem de ser revisto em
baixa durante um período substancial de tempo revoluciona por completo a forma
de compreender a dinâmica das recessões e sobretudo de ensinar o fenómeno do
ciclo económico. Uma nova normalidade talvez venha a impor-se.
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