quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

CICLOS, CRISES E CRESCIMENTO DO PRODUTO POTENCIAL



No aconchego da família, ainda que a tribo não esteja totalmente reunida, é difícil blogar e por isso alguma ausência e sobretudo o desejo de Festas Felizes a todos os que nos concedem a especial honra de visitarem este espaço.
Mas mesmo neste ambiente de desincentivo à escrita, surge uma pequena oportunidade para alguma reflexão concretizada em torno de uma crónica de Jared Bernstein no New York Times, ex-economista chefe do Vice Presidente americano Joseph Biden.
O tema é oportuno e cruza-se com o tema central da estagnação secular que tem marcado a blogosfera económica no último mês, fruto da sucessão de réplicas que a intervenção de Lawrence Summers na conferência do FMI do último novembro provocou. O epicentro da discussão é a economia americana mas isso não lhe retira a importância inequívoca que tem vindo a ganhar. Tim Taylor tem uma boa introdução ao tema. O próprio Summers já a ele voltou.
Enquanto a grande recessão de 2007 não abalou os princípios estabelecidos, as crises e os ciclos económicos eram frequentemente interpretados como o resultado da comparação entre o produto real da economia e o seu produto potencial. Este último, para além das dificuldades da sua medida, é conceptualmente definido de forma expedita como o máximo produto que uma dada economia pode obter em determinado ano se todos os recursos estiverem plenamente utilizados. Sabemos que a plena utilização dos recursos é compatível com uma taxa de desemprego positiva que alguns designam de taxa de desemprego natural, pois o desemprego zero é algo estatisticamente impossível de obter. O produto potencial ao longo do tempo corresponde ao que os economistas designam como o crescimento tendencial da economia (o trend do PIB real).
Até à grande recessão os ciclos económicos eram apresentados como algo que se projetava nas diferenças entre PIB real e PIB potencial: as expansões regra geral vinham associadas a crescimentos dessa diferença positiva e as recessões ao seu contrário, ou seja a diferenças negativas com propensão para se tornarem mais negativas. Em súmula, os ciclos económicos projetar-se-iam nos desvios em relação ao trend, regra geral positivos em expansões e negativos em recessões.
O que o artigo de Bernstein vem realçar é que após 2007 o comportamento do produto potencial da economia americana altera-se substancialmente. Se projetarmos o PIB americano apenas com dados até esse ano, a curva do PIB potencial tem um comportamento bem mais favorável do que se o projetarmos incluindo toda a informação até aos nossos dias.
É uma outra forma de falar de estagnação secular como Summers a canonizou. Várias razões podem estar a contribuir para a redução da dinâmica do produto potencial da economia americana: trabalho (demografia) e capital (baixa propensão ao investimento) podem estar a apresentar um subcontributo para o crescimento económico; o progresso técnico pode estar a atravessar uma fase de interrogação na sua dinâmica de geração de efeitos de inovação e de novas atividades motoras; a procura global pode estar estruturalmente contraída com essa contração ampliada pela estupidez de políticas de austeridade para além do necessário; a desigualdade na distribuição do rendimento pode estar a bloquear o crescimento.
Quaisquer que sejam os fatores a marcar a explicação, admitir que o produto potencial das economias tem de ser revisto em baixa durante um período substancial de tempo revoluciona por completo a forma de compreender a dinâmica das recessões e sobretudo de ensinar o fenómeno do ciclo económico. Uma nova normalidade talvez venha a impor-se.

Sem comentários:

Enviar um comentário