(António Jorge Gonçalves, Toon, http://inimigo.publico.pt)
O editorial (“Carta ao Leitor”) da “Veja” desta semana começa assim: “O Brasil sofre de uma forte e resistente miopia sobre os limites entre o público e o privado. Historicamente, a elite política brasileira é patrimonialista. Os poderosos tendem a confundir o poder político com o direito de usar e abusar do património público como se fosse sua propriedade privada. O patrimonialismo vem de longe. O Brasil já nasceu loteado por potentados portugueses que ganhavam da coroa aqui vastas concessões de terras. Na mesma caravela vinham os poderes quase absolutos para administrar sua gente e sua riqueza. Esse pecado original ainda hoje marca a condução da coisa pública no Brasil.”
As derivações possíveis são múltiplas. Num extremo, que a culpa do “mensalão” é da maldita colonização que lhes coube em sorte, o que não colhe em absoluto porque corresponderia a acreditar que um moçoilo como Relvas teve algo a ensinar a um sabidola como Dirceu. Noutro, que a fama do “patrimonialismo” lusitano já vem de longe, o que não colhe como argumento para diminuir o peso das culpas de toda uma gente pouco escrupulosa – de muitas origens ideológico-geográficas, embora tendo as suas maiores referências numa informal “rede de cavaquistas” – que confundiu orçamentos, se fez gestionária e logrou benefícios de sentido único.
Um pouco mais a sério: a relevância e as implicações de um assunto desta natureza não seriam de molde a justificarem uma menor ligeireza de análise?
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