Nuno Crato prossegue a sua devastadora trajetória
de demonstração de como um pressuposto homem da ciência atua como se fosse o
seu contrário na gestão da coisa pública, e não de coisa pequena como é a
educação.
Já há bastante tempo se tornou evidente que o
ministro Crato à força dos seus próprios argumentos feitos (a negação da ciência)
não tem uma ideia coerente do sistema educativo e de formação e também do sistema
de ensino superior, sendo confrangedora a sua não compreensão da profunda
heterogeneidade e polarização que o ensino superior politécnico tem vindo a
aprofundar nos últimos tempos. Já se sabia que seguramente com a aprovação tácita
do ministro, um tal Lynce (lembram-se dele como ministro? Que horror!) tinha há
alguns meses mobilizado as hostes parlamentares do PSD e PP para fazer passar
um documento que escandalosamente revela o preconceito de menoridade atribuído
aquele subsistema do ensino superior, condenando-os, em alguns casos com
flagrante destruição de recursos, à formação de curta duração sem grau académico.
O desrespeito com que Crato em direto com José
Rodrigues dos Santos se referiu às Escolas Superiores de Educação (esta gente
transcende-se perante o sinalzinho vermelho da câmara mais próxima) a propósito
da famigerada prova aos professores de ensino básico e secundário com menos de
5 anos de experiência letiva é o ponto máximo das ideias feitas de um ministro que
deveria mobilizar o conhecimento disponível e não usar os seus preconceitos
como matéria de facto. Posto a nu nesse direto, que a comunicação oficial
posterior não anula, o ministro deu o flanco para compreendermos que afinal a
prova é simplesmente o pretexto para eliminar alguns contratados e esperar que
os resultados confirmem o seu preconceito em relação às Escolas Superiores de
Educação do Politécnico.
Espero sinceramente que cientistas da educação de
grande qualidade que trabalham e ensinam por essas Escolas Superiores de Educação
respondam a Crato nos termos que o não-cientista merece, como por exemplo Maria Emília Brederode dos Santos o fez há dias no Público com uma crónica de grande
elegância arrasadora.
Crato assumiu-se como o grande paladino do
combate ao “eduquês” que associa
abusivamente às Escolas Superiores de Educação do Politécnico, não
compreendendo que a deriva pedagógico-metodológica que as ciências da educação
em tempos atravessaram já deu origem a grandes evoluções na investigação e nas
próprias práticas de ensino, não sendo hoje correto afirmar que tal deriva se
sobrepõe ainda ao conhecimento científico e técnico profundo das matérias que
ensinamos.
Em trabalho recente para o Instituto Politécnico
do Porto pude confirmar que essa deriva já foi devidamente integrada e
resolvida e encontrei na sua Escola Superior de Educação gente de grande
qualidade científica, com práticas de ensino em contexto de trabalho fortemente
inovadoras, que dificilmente se encontra nas Universidades.
E se não bastasse os preconceitos do ministro são
traídos pelos próprios resultados do PISA que foram neste ano de 2013 a melhor
bofetada, sonora e bem aplicada, com que o sistema educativo poderia presentear
tão invertebrado ministro.
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