sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

O NÃO CIENTISTA



Nuno Crato prossegue a sua devastadora trajetória de demonstração de como um pressuposto homem da ciência atua como se fosse o seu contrário na gestão da coisa pública, e não de coisa pequena como é a educação.
Já há bastante tempo se tornou evidente que o ministro Crato à força dos seus próprios argumentos feitos (a negação da ciência) não tem uma ideia coerente do sistema educativo e de formação e também do sistema de ensino superior, sendo confrangedora a sua não compreensão da profunda heterogeneidade e polarização que o ensino superior politécnico tem vindo a aprofundar nos últimos tempos. Já se sabia que seguramente com a aprovação tácita do ministro, um tal Lynce (lembram-se dele como ministro? Que horror!) tinha há alguns meses mobilizado as hostes parlamentares do PSD e PP para fazer passar um documento que escandalosamente revela o preconceito de menoridade atribuído aquele subsistema do ensino superior, condenando-os, em alguns casos com flagrante destruição de recursos, à formação de curta duração sem grau académico.
O desrespeito com que Crato em direto com José Rodrigues dos Santos se referiu às Escolas Superiores de Educação (esta gente transcende-se perante o sinalzinho vermelho da câmara mais próxima) a propósito da famigerada prova aos professores de ensino básico e secundário com menos de 5 anos de experiência letiva é o ponto máximo das ideias feitas de um ministro que deveria mobilizar o conhecimento disponível e não usar os seus preconceitos como matéria de facto. Posto a nu nesse direto, que a comunicação oficial posterior não anula, o ministro deu o flanco para compreendermos que afinal a prova é simplesmente o pretexto para eliminar alguns contratados e esperar que os resultados confirmem o seu preconceito em relação às Escolas Superiores de Educação do Politécnico.
Espero sinceramente que cientistas da educação de grande qualidade que trabalham e ensinam por essas Escolas Superiores de Educação respondam a Crato nos termos que o não-cientista merece, como por exemplo Maria Emília Brederode dos Santos o fez há dias no Público com uma crónica de grande elegância arrasadora.
Crato assumiu-se como o grande paladino do combate ao “eduquês” que associa abusivamente às Escolas Superiores de Educação do Politécnico, não compreendendo que a deriva pedagógico-metodológica que as ciências da educação em tempos atravessaram já deu origem a grandes evoluções na investigação e nas próprias práticas de ensino, não sendo hoje correto afirmar que tal deriva se sobrepõe ainda ao conhecimento científico e técnico profundo das matérias que ensinamos.
Em trabalho recente para o Instituto Politécnico do Porto pude confirmar que essa deriva já foi devidamente integrada e resolvida e encontrei na sua Escola Superior de Educação gente de grande qualidade científica, com práticas de ensino em contexto de trabalho fortemente inovadoras, que dificilmente se encontra nas Universidades.
E se não bastasse os preconceitos do ministro são traídos pelos próprios resultados do PISA que foram neste ano de 2013 a melhor bofetada, sonora e bem aplicada, com que o sistema educativo poderia presentear tão invertebrado ministro.

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