sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

BALI E A VOZ AUTORIZADA DE RICHARD BALDWIN

(Richard Baldwin)


Em post anterior, registei os resultados do acordo ministerial de Bali da Organização Mundial do Comércio (World Trade Organization), inseridos na longa maratona negocial designada por Doha Round, cuja penosa concretização reflete bem o complexo processo de governance em que a economia mundial está mergulhada. A voz autorizada de Richard Baldwin, um dos grandes especialistas da matéria e Diretor do CEPR, lança para o tema um outro peso e ajuda-nos a compreender melhor o paradoxo de termos assistido a uma grande manifestação de júbilo por parte de Roberto Azevedo, diretor da WTO, quanto ao resultado alcançado e simultaneamente ter-se percebido que a ronda negocial está longe de estar concluída.
O êxito de Bali tirou o multilateralismo da unidade de urgências para a unidade de cuidados intensivos – mas não sabemos ainda se a operação foi ou não um sucesso”.
A fórmula de Baldwin explica lapidarmente que o êxito das negociações de Bali dá algum fôlego provisório ao papel da WTO, mas que não chega para ocultar a profunda erosão que a organização está a experimentar como elemento central da governação do comércio mundial. O rebalanceamento do comércio internacional que tanto motivou os países menos desenvolvidos na sua formação de expectativas quanto ao início da ronda negocial de Doha, traduzido na liberalização dos produtos agrícolas e dos bens manufaturados intensivos em trabalho, tem vindo a penar e a arrefecer tais expectativas, não contando aqui com o peso crescente da China, da Índia e do Brasil na estruturação desse rebalanceamento.
Mas a questão que mais tem comprometido a maratona negocial é o facto de em paralelo às interrogações do Doha Round se terem precipitado negociações ao nível mega-regional, com dois colossos potenciais a movimentarem-se nesse sentido: a Trans-Pacific Partnership (TPP) e a Transatlantic Trade and Investment Partnership (TTIP). Os países envolvidos dificilmente poderão alinhar em simultâneo com deus e o diabo, e por isso os avanços de Doha passam a ser indissociáveis do êxito ou fracasso destas mega-iniciativas.
O tema interessa a Portugal e de que maneira. Via contributo do amigo António Melo que por sua vez o recolheu do blogue de Seixas da Costa, Duas ou Três Coisas, cheguei a um estimulante e provocatório artigo de Erik Battberg e Bernardo Pires de Lima, publicado no Huffingtonpost, que nos questiona por que razão não poderá ser o Atlântico e não o Pacífico a dominar o comércio internacional do século XXI.
“Em termos geopolíticos, a bacia atlântica tem tudo para preserver a proeminência histórica do Norte enquanto redimensiona o estatuto global do Sul: poderes globais e crescentes (como por exemplo, os EUA, o Reino Unido, a França, a Alemanha, o Brasil, o México, a Nigéria, Angola, África do Sul), redes de investimento cruciais (pelo Atlântico passa mais comércio e investimento do que por qualquer outra parte do mundo), metrópoles gigantescas (Nova Iorque, Chicago, Londres, Paris, São Paulo, lagos, Joanesburgo), elevadas taxas de crescimento populacional (a maioria dos países africanos têm taxas acima dos 2%), indústrias militares poderosas (13 dos 20 maiores níveis de despesa em defesa situam-se na área Atlântica), línguas globais (Inglês, Espanhol, Francês e Português) e poderosos sistemas educacionais (Harvard e Oxford, por exemplo) e também instituições de escala mundial como a Universidade de São Paulo”.  
O tema está quente e o próprio Krugman tem debatido o assunto. O interesse de Portugal nesta matéria é crucial, houvesse dimensão de pensamento estratégico nesta governação. E, para além disso, o défice de inteligência estratégica pelo lado dos simulacros de governação da União Europeia também introduz ameaças nesta grande margem de oportunidade. Claro que a instalação de países paraísos não fiscais mas do narcotráfico neste espaço como a Guiné Bissau ajudará a complicar a matéria. Mas a principal ameaça virá da ausência de inteligência estratégica dos que tenderão acenar a ameaça asiática, não compreendendo que têm à sua disposição um espaço de grande potencial.

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