Está escrito no destino que o infeliz Rajoy não
vai ter a governação de maioria absoluta com que sonhava quando derrubou com
estrondo um PSOE perdido na sua vaguidade de governação.
A situação recessiva parece ter sido estancada,
mas as maleitas do sistema financeiro espanhol que a cada dia que passa vai
destilando para a opinião pública novos casos de compadrio e desvario
financeiros vão refreando o entusiasmo pela recuperação. Entretanto, a dívida pública
continua a galopar e ronda já os 94% do PIB.
Mas a principal pedra no sapato chama-se
Catalunha, esses endiabrados que teimam em criar uma espécie de teatro político,
através do acordo celebrado entre as forças políticas da Convergència i Unió, Esquerra
Republicana, Iniciativa e CUP para a realização do impossível referendo
independentista, acordo que como não podia deixar de ser está a deixar o PSOE
catalão à beira da rotura, ou pelo menos de um sério ataque de nervos. O teatro
está montado, logo a partir do texto da peça, pois ambíguas são que baste as
perguntas do dito referendo: “(i) Quer que a Catalunha se converta num Estado? Em caso
afirmativo, quer que se converta num estado independente?”.
Há quem pense que a ambiguidade das questões
pretende não afastar do processo os federalistas, não partidários do
independentismo, mas antes de um modelo federal para a Espanha.
O problema é que nem o Congresso dos Deputados
poderá aceitar a realização do referendo, nem o PP tem elasticidade política
para aceitar uma revisão constitucional que dê concretização ao modelo de Espanha
das nações que os obreiros da constituição espanhola conseguiram projetar como
forma de salvação do projeto constitucional e da transição democrática
espanhola.
Assim sendo, a saída catalã parece ser a de eleições
plebiscitárias, assumindo as forças políticas projetos eleitorais que consagrem
ou não o independentismo, bem mais arriscada para as forças políticas que agora
subscreveram o acordo do referendo.
Para animar todo este processo, o intelecto e a
universidade movimentam-se e realizam em Barcelona um grande simpósio,
patrocinado pela Generalitat e organizado pelo Centro de Historia Contemporánea de Cataluña, designado vejam bem de “España contra Cataluña: una mirada histórica (1714-2014”. História incómoda desenterrada, falando-se de
três etapas – primeiro o “genocídio cultural” (estes catalães não são pecos),
segundo uma fase de repressão pelo terror e uma terceira etapa (entre 1939 e
1945) com a Igreja a colaborar ativamente na descatelanização, embora possa
falar-se de uma pastoral catalã numa igreja financeiramente castelhana. E até
Napoleão foi apontado como alguém fortemente contributivo para a sobrevivência
do catalão, ao afastar o castelhano e o domínio dos Borbões.
Mas que grande lio é a incomodidade da história.
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