domingo, 15 de dezembro de 2013

CATALUNHA, DE NOVO



Está escrito no destino que o infeliz Rajoy não vai ter a governação de maioria absoluta com que sonhava quando derrubou com estrondo um PSOE perdido na sua vaguidade de governação.
A situação recessiva parece ter sido estancada, mas as maleitas do sistema financeiro espanhol que a cada dia que passa vai destilando para a opinião pública novos casos de compadrio e desvario financeiros vão refreando o entusiasmo pela recuperação. Entretanto, a dívida pública continua a galopar e ronda já os 94% do PIB.
Mas a principal pedra no sapato chama-se Catalunha, esses endiabrados que teimam em criar uma espécie de teatro político, através do acordo celebrado entre as forças políticas da Convergència i Unió, Esquerra Republicana, Iniciativa e CUP para a realização do impossível referendo independentista, acordo que como não podia deixar de ser está a deixar o PSOE catalão à beira da rotura, ou pelo menos de um sério ataque de nervos. O teatro está montado, logo a partir do texto da peça, pois ambíguas são que baste as perguntas do dito referendo: “(i) Quer que a Catalunha se converta num Estado? Em caso afirmativo, quer que se converta num estado independente?”.
Há quem pense que a ambiguidade das questões pretende não afastar do processo os federalistas, não partidários do independentismo, mas antes de um modelo federal para a Espanha.
O problema é que nem o Congresso dos Deputados poderá aceitar a realização do referendo, nem o PP tem elasticidade política para aceitar uma revisão constitucional que dê concretização ao modelo de Espanha das nações que os obreiros da constituição espanhola conseguiram projetar como forma de salvação do projeto constitucional e da transição democrática espanhola.
Assim sendo, a saída catalã parece ser a de eleições plebiscitárias, assumindo as forças políticas projetos eleitorais que consagrem ou não o independentismo, bem mais arriscada para as forças políticas que agora subscreveram o acordo do referendo.

Para animar todo este processo, o intelecto e a universidade movimentam-se e realizam em Barcelona um grande simpósio, patrocinado pela Generalitat e organizado pelo Centro de Historia Contemporánea de Cataluña, designado vejam bem de “España contra Cataluña: una mirada histórica (1714-2014”. História incómoda desenterrada, falando-se de três etapas – primeiro o “genocídio cultural” (estes catalães não são pecos), segundo uma fase de repressão pelo terror e uma terceira etapa (entre 1939 e 1945) com a Igreja a colaborar ativamente na descatelanização, embora possa falar-se de uma pastoral catalã numa igreja financeiramente castelhana. E até Napoleão foi apontado como alguém fortemente contributivo para a sobrevivência do catalão, ao afastar o castelhano e o domínio dos Borbões.
Mas que grande lio é a incomodidade da história.

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