Os franceses não perdem uma oportunidade para tentarem disfarçar a sua crescente irrelevância com manifestações artificiais de uma falsa centralidade. Ao mesmo tempo que em privado vão fazendo o necessário para não desagradarem ao patrão alemão e dele continuarem a obter as benesses que lhes alimentam os vícios de aristocratas falidos.
Desta vez, e a propósito do “acordo” alcançado no Conselho Europeu desta semana acerca da “união bancária”, até o “Le Monde” trocou a sua habitual objetividade pelo chauvinismo mais desastrado e bafiento: “Berlim e Paris relançam a Europa” e “um bom acordo que corrige as falhas da Zona Euro” são dois títulos fantasiosos que não estão à altura dos pergaminhos que o jornal justamente ostenta.
A realidade é, infelizmente, muito diferente. Com efeito, multiplicam-se os desvirtuamentos dos princípios e valores de que se reclama uma União Europeia que já pouco tem a ver com eles. E já não é só a solidariedade que falece, são mesmo as regras historicamente adquiridas de funcionamento a ser subvertidas por um Conselho germanicamente comandado em termos autoritários e assentes numa chantagem refinada sobre os restantes Estados membros.
O profundo desrespeito pelas instituições comunitárias mais representativas – o Parlamento e a Comissão – em favor de uma imposição dos interesses nacionais e da lei do mais forte ficaram bem à vista no modo intransigente como os alemães exigiram que o comité que será encarregado da gestão do fundo europeu comum a criar para efeitos de intervenção em caso de resolução de bancos não emane de uma entidade independente (como seria p.e. a Comissão) mas dependa diretamente do próprio Conselho – preferível não quebrar o infernal círculo vicioso entre Estados e bancos do que correr o risco de permitir quaisquer veleidades a quaisquer sulistas, latinos ou preguiçosos!
A construção europeia já quase não passa de uma miragem…
(Aurélien
Froment, Aurel, http://www.lemonde.fr)
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