João Carlos Espada antecipa-se hoje no Público
com a sua lista de livros para o Natal a uma referência que esperava ter ontem
concretizado e que acabou por ficar apenas no computador.
César Antonio Molina, ex-ministro da Cultura de
Espanha, ocupava no sábado a excelente Cuarta Página do El País com uma reflexão
aguda e pertinente sobre o significado do desaparecimento da memória coletiva
da violência brutal da Grande Guerra Mundial de 1914. A reflexão de Molina
opera-se em torno de algumas obras de referência e sobretudo sobre o
significado da destruição da Catedral de Reims como símbolo de destruição de um
património não apenas francês mas também europeu e universal. Molina parte
dessa perda de memória para explicar o completo fracasso da Europa cultural:
problemas na livre circulação de bens e serviços culturais, inexistência de uma
indústria cultural europeia, dificuldades de coordenação de programas culturais
comuns, falhas na defesa de património histórico comum, inexistência de
institutos culturais comunitários, problemas no audiovisual, enfim um deserto.
Mas a curiosidade do artigo de Molina, que aí se
cruza com a lista de João Carlos Espada, é o facto do ex-ministro da Cultura
espanhol destacar uma obra recente de Luuk van Middelaar, um jovem cientista
político que é nada mais nada menos do que adjunto de Van Rumpuy, Presidente do
Conselho Europeu. O livro chama-se The Passage to Europe, é publicado pela Yale University Press e aguardo a sua
edição em paperback para o adquirir na Amazon UK. Via César Molina
compreende-se que Middelaar reflete essencialmente sobre a amnésia das novas
gerações quanto à história da Europa e o que ela significa de obstáculo ao
projeto europeu e que a sua obra contém inúmeros exemplos de derrotas comunitárias
infligidas pelo facto de muitos Estados europeus terem rejeitado projetos
homogeneizadores de política educativa e cultural.
Resta saber se tal rejeição correspondeu a uma defesa
louvável da pluralidade europeia ou se pelo contrário ela navega no
nacionalismo mais bacoco. Que a edição em paperback se apresse pois é tema que
merece ser revisitado.
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