terça-feira, 10 de dezembro de 2013

UM TOQUE COM CERTIFICAÇÃO DE QUALIDADE


Anda por aí nas salas de cinema, discretamente, um filme imenso. Organizado pelo seu realizador em quatro narrativas que se sucedem sem uma separação assumida, “Um Toque de Pecado” faz um retrato sociológica e esteticamente exemplar (embora também desesperado) de uma China em acelerada mutação entre um maoísmo ruralista e autoritário e um capitalismo galopante e selvagem.

Foi o próprio Jia Zhang-Ke quem assim o descreveu: “A transformação rápida da China, a sua abertura ao capitalismo, fez-se a partir do proveito de certas regiões em detrimento de outras e a nossa sociedade está a ser profundamente alterada pelos seus movimentos migratórios interiores. As pessoas deixam as suas terras à procura de trabalho e este afluxo de população muito jovem aos centros urbanos desencadeou novos contextos sociais bastante secretos (...). E a depressão é geral porque as pessoas são todos os dias confrontadas com sinais exteriores de riqueza e, em simultâneo, com uma desigualdade social gritante.”

Com efeito, as quatro trágicas histórias passam-se em províncias bem diversas (Shanxi a norte, Chongqing no sudoeste, Hubei no centro e Dongguan na costa sul) e são inspiradas em casos reais recentes e muito divulgados pela versão chinesa da rede social Twitter (a Weibo), entre um mineiro despedido e revoltado contra a corrupção, um trabalhador imigrante que encontra soluções alternativas na utilização de uma arma, uma rececionista de um sauna que perde a cabeça respondendo de faca ao assédio de um cliente rico e um jovem operário que busca melhores caminhos numa errância desorientada.

Abana que chegue, mas dá pano para mangas artísticas e documentais...

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