(A empresa SONDAXE elaborou para a VOZ DE GALICIA uma sondagem centrada nas
deslocações de voto em curso no eleitorado espanhol a cerca de 40 dias de novas
eleições em Espanha. As dinâmicas de deslocação
de voto são intensas à esquerda e à direita e o que os números sugerem é que o
bipartidarismo PSOE versus PP não está morto. Mas a formação de uma nova
formação política à esquerda pode baralhar todo o processo.)
Sabíamos que no universo PODEMOS ou melhor
UNIDOS-PODEMOS tinha havido zanga de comadres com a associação de Erréjon ao
projeto da “abuela” Carmena em Madrid, que entretanto não conseguiu formar
governo na capital dada a aliança de direita entretanto constituída que salvou
o PP do desaparecimento político por essas bandas. A tensão entre Erréjon e
Pablo Iglésias é declarada e intensa há muito tempo, oferecendo mais uma
evidência da inorganicidade do PODEMOS. No seguimento dessa tensão, emergiu uma
nova formação política que se apresentará às eleições nacionais de novembro
próximo, MÁS PAÍS. A curiosidade da sondagem da VOZ é ela possibilitar ter em
conta na análise das deslocações de voto o efeito da vinda a terreiro da
formação de Erréjon. Mas os dados mostram com clareza que a volatilidade está
tranmsversalmente instalada salvo algumas resiliências.
À esquerda, como seria de intuir, é no
UNIDOS-PODEMOS que o MÁS PAÍS vai buscar força eleitoral. Segundo a sondagem,
mais de que um em cinco eleitores do UNIDOS-PODEMOS irá experimentar novas
sensações com a formação política de Erréjon, refletindo em termos diferidos os
efeitos da rotura interna já há algum tempo observada. Não sabemos como é óbvio
se esta deslocação é ela própria volátil, mas projetando estes valores para o
futuro próximo, a emergência do MÁS PAÍS representará um novo cenário de
concertação à esquerda, não dual mas a três, o que talvez facilite o que na
falha da investidura de Sánchez se revelou talvez artificialmente inviável.
No que respeita ao PSOE, os números mostram
que a sua gestão da falhada investidura deixou marcas, podendo contrariar as
expectativas de Sánchez de ver reforçado o seu poder. Cerca de um quarto do
eleitorado do PSOE oscila em torno do voto branco, o que embora não reforçando
adversários penaliza a ideia do reforço eleitoral de Sánchez. As deslocações
para o PP, CIUDADANOS e UNIDOPS-PODEMOS são marginais, não deixando de refletir
nesta antecâmara eleitoral a dificuldade do PSOE estabilizar o seu eleitorado.
Mas à direita acontecem coisas relevantes. A
queda do CIUDADANOS assemelha-se à gestão de Frederico Varandas no Sporting,
ressalvadas as devidas proporções. O partido de Rivera só consegue reter cerca
de 45% dos seus votos, estimando-se que esteja irremediavelmente perdida a sua
ambição de liderança da direita. O VOX mantém uma parte muito substancial do
seu eleitorado, o que sugere estar relativamente estancado o processo de
radicalização à direita.
O que parece seguro é que a bipolaridade do
PP, traduzida nos seus dois rostos, o da corrupção e o da capacidade histórica
de partido da governação assente numa organização resiliente, parece ter
encontrado medicação de controlo adequada, apesar da aproximação ao execrável
Aznar. Pablo Casado parece ter encontrado uma terapia de recuperação (até ao
próximo desvario de corrupção) e isso traduzir-se-á em princípio num reforço
substancial de presenças no Congresso de Deputados (o Parlamento). Essa
recuperação pode significar que o bipartidarismo na área da governação pode não
estar morto, embora a volatilidade à esquerda produza um contexto ainda muito
longe de uma geringonça à espanhola. O que pode significar que as eleições de
novembro possam não ser totalmente inúteis e criar novas oportunidades de
concertação política. À direita não temos propriamente uma luta entre o
franguinho Rivera e o galo Casado (que não o é), mas antes o confronto entre a
organização do PP e a leviandade organizativa do CIUDADANOS, que a primeira,
mais resiliente e astuta, parece estar a vencer com clareza.
Os meus amigos espanhóis não me venham com a
desculpa de que a política em Espanha está cada vez mais “aburrida”. Um
eleitorado com esta volatilidade pode gerar tudo, insegurança, indeterminação,
talvez, mas tédio é que não. Por isso votem lá, pois a Ibéria precisa de alguma
estabilidade em tempos tão instáveis.
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