sábado, 12 de outubro de 2019

BREVES E VÁRIAS



(Na acalmia de Seixas que anuncia a transição para um outono mais agreste, tempo para algumas reflexões determinadas pelo particular momento político que vivemos. Citando gente amarga, embora evitando, espero eu, o contágio.)

Confesso que preferia uma solução global para uma geringonça 2.0 e até posso dizer que votei segundo essa lógica. Também compreendo que os resultados alcançados com as eleições de 6 de outubro muito dificilmente abririam caminho a essa alternativa de concertação política. A perda do PCP – CDU foi demasiado evidente e significativa para não ter consequências. E, como também é compreensível, a interpretação interna do partido será a de ignorar a dimensão estrutural dessa perda e deslocar a explicação para os efeitos da geringonça 1.0. Para além disso, embora os resultados do Bloco de Esquerda justifiquem uma ampla reflexão interna, a sua perda junto do eleitorado urbano mais jovem, enquanto que a sua dimensão nacional aumentava, exigirá acompanhamento futuro. De qualquer modo, a dimensão das diferenças entre a CDU-PCP e o Bloco foi desfavorável a uma solução global de geringonça 2.0.

Não antecipo qual poderá ser a reação dos eleitorados do Bloco e do PCP, e do próprio PS (pelo menos do seu eleitorado mais à esquerda), a este desfazer de ilusões quanto a uma solução global de esquerda liderada por este último. Sei apenas que a preferia e que a considero mais coerente e estimulante para um avanço nestes tempos incertos da política mais progressiva. Não sendo possível, a análise da coerência dos avanços que for possível alcançar com concertação à linha com um governo minoritário PS sem acordos vai redobrar de importância. Estimo que iremos ser confrontados com múltiplas incoerências das negociações pontuais, há que estar preparados para elas e esperar que elas não ultrapassem o limiar da decência política.

A segunda reflexão é determinada pela análise que o competente e rigoroso Pedro Magalhães (PM) apresenta dos resultados das eleições de 6 de outubro no Expresso. É um documento de grande atualidade e bastante interpelador das forças políticas que obtiveram assento parlamentar. Da análise de PM saliento alguns elementos: (i) a margem de manobra que o PS apresenta para uma captação dos interesses de população mais jovem e com formação superior; (ii) a demonstração da perda massiva de eleitorado que o PSD vai apresentando a nível urbano e a nível local, comprometendo o que representava, inequivocamente, uma das forças dos sociais-democratas; (iii) a aparente perda de eleitorado do PCP – CDU em alguns territórios do Alentejo com sinais de transferência de voto para o Chega, o que a ser real desperta comparações com o que se passou em França com transmissões do PC para a Frente Nacional e exigirá futuramente uma explicação bem mais fundamentada do que as que vão existindo por aí nos comentadores de serviço.

A terceira reflexão incide sobre os tempos conturbados que se observam no PSD. Limito-me a incluir duas citações de amargos, Vaco Pulido Valente e José Pacheco Pereira, invocação que faço sempre com pinças, luvas de proteção e se for necessário fato anti-infeções. Prometi a mim próprio que envelheceria sem amargura e por isso citar dois amargos tem de ser feito com todas as cautelas, isolando a lucidez e não se deixando contaminar pela amargura.

Comecemos por VPL no seu diário de sábado:

9 de Outubro
O PSD conseguiu tirar das suas entranhas um ente político chamado Montenegro que faz de Rui Rio um homem virtuoso. Se esse espectro aparecer à frente do PSD, o país inteiro vai esconder-se na casa de banho.”

Na mouche, já perceberam que não morro de amores por personalidades do tipo Montenegro, use ele ou não o dito avental.

E agora JPP:

“ (…) mas duvido que os clones de Relvas, entre o avental, as manipulações nas redes sociais e os negócios, conseguissem chegar sequer a um medíocre mais. Na verdade, o que eles querem é a posse do instrumento, o partido, que lhes permite a carreira, nada mais. Exatamente aquilo que os fundadores do PPD entendiam como uma perversão da política.
Querem saber quem “deu cabo do partido”? Eles.

Também na mouche. Resta saber se esse PPD é reinventável nos tempos que correm e se Rio é o criador procurado.

Quarta e última reflexão. As fotografias que o Expresso publica sobre as manifestações da seca a montante do Tejo português são impressionantes pelo impacto de evidência que provocam. Talvez algumas consciências mais sejam iluminadas. Mas a reflexão fundamental a fazer é se o mundo ocidental está disposto a adaptar os seus modelos de consumo, de conforto e de vida à nova realidade, já não falando no problema da homogeneidade de soluções à escala mundial.

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