quinta-feira, 10 de outubro de 2019

AINDA MANUELA SILVA


O outro bloguista de serviço neste espaço já disse quase tudo o que é essencial sobre a economista e professora catedrática falecida anteontem. Ainda assim, não posso, não devo e não quero permitir que o seu desaparecimento não tenha também um aceno, mesmo que breve e muito delimitado, da minha parte. Faço-o em duas curtas mas muito justificadas penadas: uma para homenagear a importância pioneira de Manuela Silva no estudo e na intervenção cívico-política em matérias relacionadas com a pobreza, as necessidades básicas, a justiça social e a desigualdade em Portugal; a outra para valorizar o seu papel central, enquanto secretária de Estado do Planeamento do I Governo Constitucional, na preparação e publicação daquele que foi, à época, um documento precursor e extraordinário (também pela abordagem interdisciplinar que privilegiava): o Plano de Médio Prazo 1977-80 (que nós tanto utilizamos, aliás, como material de ensino e trabalho na FEP). E o que pretendo hoje daqui humildemente confessar tem a ver com o impacto deste trabalho que Manuela Silva impulsionou e coordenou – com toda a sua convicção, seriedade e competência – para a minha própria maturação democrática, designadamente ao conceder uma especial atenção aos valores sociais e à necessidade de um constante esforço no sentido de nunca os fazer ceder perante os ditames impostos por uma cada vez mais selvagem e descompadecida realidade mercantil. Assim, e embora pouco tenha podido privar pessoalmente com Manuela Silva (recordo, contudo, alguns momentos em que pude vê-la fazer sobressair rigor e despojamento), não tenho qualquer hesitação em salientar quanto representa de enorme perda coletiva a morte de uma figura de tão rara estatura.

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