segunda-feira, 28 de outubro de 2019

O ÚLTIMO WOODY ALLEN


Talvez o crítico do “Expresso” tenha razão quando se refere ao último Woody Allen como um “exercício de rotina”, isto é, um “exercício que o cineasta vai repetindo mecanicamente ano após ano, introduzindo nele variações mais ou menos inspiradas.” Daí que, portanto, talvez se possa concluir com ele que “já teve melhores dias, o piloto automático de Allen”. E, no entanto...

Sim, no entanto é para mim um prazer sempre renovado assistir a um filme de Woody Allen. Seja porque é reconhecido que ele consegue apresentar a sua amada cidade de Nova Iorque como ninguém – e, em boa verdade, já lá não rodava desde 2009 (“Tudo Pode Dar Certo”). Seja porque ele sabe descobrir e dirigir atores como poucos – e desta vez são três praticamente ilustres desconhecidos, todos ainda na casa dos vinte, que ele torna brilhantes (Timothée Chalamet, Elle Fanning e Selena Gomez). Seja, principalmente, porque não adiro de todo à ideia de “uma narrativa que se vai desdobrando numa série de episódios desinspirados, que só sobrevivem à base de gags pontuais e de notas dramatúrgicas que – a espaços – fazem prova da inteligência do cineasta”; é que, e ao invés, considero que os ditos episódios são, as mais das vezes, inspirados e assentes em deliciosos gags e notas dramatúrgicas que claramente revelam, isso sim, o enorme talento do cineasta a somar à sua inteligência e sensibilidade.

Entendamo-nos. Não estou a afirmar que “Um Dia de Chuva em Nova Iorque” é um filme excecional ou, mesmo, muito bom. Estou apenas a sustentar que se trata de uma bela comédia romântica e que constitui mais um momento de cinema a não perder, assinado por um realizador que tem vindo a ser objeto de uma campanha que ressuscita fantasmas da década de 90 com vista a destruir a sua dignidade e imagem, acabando, por essa via, por também pretender beliscar a qualidade de tanto do que nos foi deixando enquanto vivência e pensamento.

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