segunda-feira, 7 de outubro de 2019

NO RESCALDO DE UMA NOITE QUASE TRANQUILA



 (Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt e Cristiano Salgado, https://expresso.pt)

Manifestamente que o teor do meu penúltimo post estava mais determinado por alguns receios que me assaltavam à beira do fim do que por aquilo que realmente se adivinhava e veio a ser a vontade expressa dos portugueses. Assim sendo, e fechadas as principais contas, fica pouco para dizer de muito especialmente diferenciador quanto ao desenrolar e ao desfecho da noite eleitoral.

Objetivamente: o PS foi o grande vencedor, mas ficou-se pelos 36,7%, por 106 assentos parlamentares e por apenas 124 mil votos mais do que em 2015; a Direita (PSD + CDS) foi a grande derrotada, perdendo 4,7%, 17 lugares e mais de 344 mil votos, passando a contar junta 4,5% menos do que o PS; neste quadro, o CDS caiu estrondosamente, passando a contar apenas com 5 deputados; o BE manteve o essencial da sua posição, um terceiro lugar distanciado com os mesmos 19 deputados e pouco mais de 57 mil votos a menos (9,7%); a CDU caiu pouco (6,5%) e acabou a perder 5 deputados dos 17 que detinha; o PAN conseguiu eleger um grupo parlamentar de quatro com os seus 3,3% e mais de 166 mil votos; três pequenos partidos lograram a entrada no Parlamento, com o inconcebível CHEGA do inconcebível Ventura a ser sétimo com mais 66,4 mil votantes (!), o INICIATIVA LIBERAL a surpreender com o seu discurso liberalizante e pseudoideológico e o LIVRE a ser finalmente remunerado depois de tanto porfiar; a ALIANÇA de Santana Lopes ficou fora das contas (como é possível que este homem tenha cometido o erro crasso que cometeu?); o R.I.R. do Tino de Rans ainda foi aos 34,6 mil votos, bem mais do que os 9,2 do PDR de Marinho e Pinto (outro que não se enxerga e se deixou ofuscar pelas suas próprias luzes, voltando a morrer politicamente!); quanto à abstenção, ela ficou-se pelos 45,5% (mais de 4,25 milhões não votaram!), tendo sido mais de 218 mil os que se apresentaram para optarem por anular o boletim de voto ou o entregar em branco.

Já em termos de uma leitura política, necessariamente simplista, resulta claro que um reforçado PS governará sozinho mas sempre precisará de um dos seus anteriores parceiros de “Geringonça” para as suas aprovações parlamentares (com o BE a poder surgir como o pivot em face de um PCP que endurecerá com a saída de Jerónimo), enquanto o PSD e o CDS terão imprescindíveis desafios refundadores pela frente: Cristas já se demitiu e anunciou um congresso que dificilmente juntará os cacos que ela tão desastradamente partiu com a preciosa ajuda de Nuno Melo, enquanto Rio se agarrou ao seu discurso marialva para negar o óbvio que alguns dos seus opositores lhe atirarão à cara na disputa interna prevista para janeiro.

Não obstante tudo isto, e tudo visto e ponderado, a grande verdade é que pouco mudará na cena política nacional – o que parece ser bom pelo lado da estabilidade, não fora esta ficar agora mais dependente de componentes negociais menos evidentes e mais complexas do que aquelas que António Costa tão habilmente dominou no passado, para além de tal conduzir à centralidade de manobras de diversão politiqueiras que nos distrairão do essencial em termos estratégicos e estruturais.

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