(A última sondagem publicada
em Espanha pelo CIS, Centro de Sondagens de estatuto público e que os mentideros
políticos consideram demasiado próximo do PSOE, data de antes da publicação da
sentença sobre os processos de sedição dos líderes catalães e de todas as
perturbações que varreram a Catalunha na sequência dessa decisão judicial. Não é fácil ao PSOE retirar uma interpretação sólida dos resultados de tal
sondagem, não só pelo enviesamento que as sondagens do CIS poderão veicular,
mas também porque as maiorias parlamentares que se abrem à investidura de Sánchez
são de sinal contrário, ou com o Unidos Podemos ou com o CIUDADANOS. Arriscaria
dizer que o diabo escolha.)
Quem segue de perto a imprensa espanhola mais relevante e
alguns debates da TVE 24 horas diria com alguma convicção que a jogada tática
de protelar até à impossibilidade a farsa ou drama da falhada investidura de
Pedro Sánchez seria prejudicial ao líder do PSOE. Sánchez deixou que se
instalasse a ideia de que o seu esforço de negociação não era sério nem
empenhado, antes sinuoso e contraditório e daí a que se imaginasse o cenário de
que Sánchez queria capitalizar o incómodo de novas eleições. Para além disso, a
radicalização do problema catalão com a sentença judicial do Supremo e a clara
perceção de que era demasiado cedo para ensaiar a via dos indultos e colocar a
zeros a negociação política (como se tal fosse possível no atual estado das
coisas) tenderiam a jogar sempre em desfavor do PSOE. Por um lado, não estavam
criadas as condições para o governo de Madrid ensaiar de novo o artigo 155º da
Constituição e assim agradar à direita mais espanholista. Por outro lado, a
expressão de uma via mais dialogante no coração da refrega e da agitação das
ruas soaria sempre a uma prova de fraqueza. Por isso, o legado negativo das
negociações frustadas para a investidura e a radicalização catalã apontariam
para uma queda da posição eleitoral do PSOE face às últimas eleições, contrariando
assim o calculismo político de Sánchez.
A sondagem do CIS só permite contrariar uma das dimensões
deste lastro negativo. Ela data de antes da sentença judicial e por isso não integra
os efeitos pesados da radicalização catalã. Ora o que a sondagem mostra é que o
lastro da investidura falhada parece não ter penalizado o PSOE. Ela atribui
cerca de 32% dos votos ao PSOE contra cerca de 29% nas últimas eleições e abre
um intervalo muito largo de 133 a 150 deputados no Congresso, quando nas últimas
eleições o PSOE conquistou 123 lugares. Vá lá saber-se se o reivindicado enviesamento
do CIS a favor do PSOE tem aqui justificação ou se o eleitorado espanhol
considera que apesar do taticismo de Sánchez não há por agora melhor
alternativa para conduzir os destinos de Espanha, até porque o PP continua em
recuperação mas parece não estar ainda preparado para a tarefa de ser alternativa.
Para além da radicalização na Catalunha ser um fator de
grande indeterminação eleitoral, apalpando o pulso à Espanha se quer a força ou
a via da concertação política por mais complexa que ela se apresente, os
resultados colocam o PSOE perante dois cenários de negociação para lograr a investidura
e, espera-se, a governação: ou com o Unidos Podemos (que correu francamente mal
no passado recente) ou com o CIUDADANOS que obrigará à utilização de muitos
apagadores em afirmações passadas de incompatibilidades (apesar da força da
pressão mediática e empresarial para a negociação ocorrer). Mal me quer, bem me
quer bem pode Sánchez pode começar a soletrar.
Mas a sondagem tem outras novidades: o MÁS País parece
constituir um exemplo de ejaculação política precoce e o VOX fica bastante
abaixo da última votação (os Espanhóis parecem ter reconsiderado e a recuperação
do PP parece querer dizer isso mesmo.
A campanha eleitoral está prestes a começar e a roleta
vai ser de novo acionada.
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