terça-feira, 29 de outubro de 2019

E RODA A SORTE ELEITORAL DE NOVO EM ESPANHA



(A última sondagem publicada em Espanha pelo CIS, Centro de Sondagens de estatuto público e que os mentideros políticos consideram demasiado próximo do PSOE, data de antes da publicação da sentença sobre os processos de sedição dos líderes catalães e de todas as perturbações que varreram a Catalunha na sequência dessa decisão judicial. Não é fácil ao PSOE retirar uma interpretação sólida dos resultados de tal sondagem, não só pelo enviesamento que as sondagens do CIS poderão veicular, mas também porque as maiorias parlamentares que se abrem à investidura de Sánchez são de sinal contrário, ou com o Unidos Podemos ou com o CIUDADANOS. Arriscaria dizer que o diabo escolha.)

Quem segue de perto a imprensa espanhola mais relevante e alguns debates da TVE 24 horas diria com alguma convicção que a jogada tática de protelar até à impossibilidade a farsa ou drama da falhada investidura de Pedro Sánchez seria prejudicial ao líder do PSOE. Sánchez deixou que se instalasse a ideia de que o seu esforço de negociação não era sério nem empenhado, antes sinuoso e contraditório e daí a que se imaginasse o cenário de que Sánchez queria capitalizar o incómodo de novas eleições. Para além disso, a radicalização do problema catalão com a sentença judicial do Supremo e a clara perceção de que era demasiado cedo para ensaiar a via dos indultos e colocar a zeros a negociação política (como se tal fosse possível no atual estado das coisas) tenderiam a jogar sempre em desfavor do PSOE. Por um lado, não estavam criadas as condições para o governo de Madrid ensaiar de novo o artigo 155º da Constituição e assim agradar à direita mais espanholista. Por outro lado, a expressão de uma via mais dialogante no coração da refrega e da agitação das ruas soaria sempre a uma prova de fraqueza. Por isso, o legado negativo das negociações frustadas para a investidura e a radicalização catalã apontariam para uma queda da posição eleitoral do PSOE face às últimas eleições, contrariando assim o calculismo político de Sánchez.

A sondagem do CIS só permite contrariar uma das dimensões deste lastro negativo. Ela data de antes da sentença judicial e por isso não integra os efeitos pesados da radicalização catalã. Ora o que a sondagem mostra é que o lastro da investidura falhada parece não ter penalizado o PSOE. Ela atribui cerca de 32% dos votos ao PSOE contra cerca de 29% nas últimas eleições e abre um intervalo muito largo de 133 a 150 deputados no Congresso, quando nas últimas eleições o PSOE conquistou 123 lugares. Vá lá saber-se se o reivindicado enviesamento do CIS a favor do PSOE tem aqui justificação ou se o eleitorado espanhol considera que apesar do taticismo de Sánchez não há por agora melhor alternativa para conduzir os destinos de Espanha, até porque o PP continua em recuperação mas parece não estar ainda preparado para a tarefa de ser alternativa.

Para além da radicalização na Catalunha ser um fator de grande indeterminação eleitoral, apalpando o pulso à Espanha se quer a força ou a via da concertação política por mais complexa que ela se apresente, os resultados colocam o PSOE perante dois cenários de negociação para lograr a investidura e, espera-se, a governação: ou com o Unidos Podemos (que correu francamente mal no passado recente) ou com o CIUDADANOS que obrigará à utilização de muitos apagadores em afirmações passadas de incompatibilidades (apesar da força da pressão mediática e empresarial para a negociação ocorrer). Mal me quer, bem me quer bem pode Sánchez pode começar a soletrar.

Mas a sondagem tem outras novidades: o MÁS País parece constituir um exemplo de ejaculação política precoce e o VOX fica bastante abaixo da última votação (os Espanhóis parecem ter reconsiderado e a recuperação do PP parece querer dizer isso mesmo.

A campanha eleitoral está prestes a começar e a roleta vai ser de novo acionada.

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