(Chegou à minha caixa de correio eletrónica uma mensagem
comercial da Ryanair segundo a qual a companhia aérea se apresenta como a mais
eficiente da Europa em termos de emissões de gases com efeito de estufa. Não deixa de ser curioso confrontar esta notícia,
que admito ser verdadeira e não contaminada por habilidades do tipo das praticadas
pela indústria automóvel, com outras características
menos simpáticas para a comunicação da empresa.)
A emergência das companhias aéreas de baixo
custo representou um avanço por vezes negligenciado da globalização,
particularmente da chamada globalização das pessoas que, como é conhecido, constituiu
durante largo a dimensão mais tímida da globalização, sobretudo quando
confrontada com a globalização das mercadorias e serviços e dos capitais.
Nos tempos mais recentes, dimensões menos
simpáticas ou recomendáveis deste tipo de companhias têm vindo a ser
divulgados. É o caso dos múltiplos atropelos das leis laborais dos países, que
são explicados à luz de um aproveitamento oportunista de uma evidência, ou
seja, não existe legislação laboral a nível global ou nacional. Essa é uma das
mais sérias contradições da globalização. Floresce mas o quadro regulador
continua preso à dimensão nacional dos quadros legislativos dos países e mesmo
nos blocos económicos como a União Europeia essa globalização do quadro legal não
existe. É o caso também do modo como tais companhias jogam habilmente com os
subsídios à abertura de ligações concretas, seja de autoridades regionais, seja
mesmo de autoridades nacionais.
A mensagem comercial que me chegou pelo
correio eletrónico da Ryanair situa a eficiência ambiental da empresa nos
seguintes tópicos:
- Voar ponto a ponto permite evitar emissões e ruído em excesso produzidos por voos indiretos;
- Novas aeronaves mais silenciosas e eficientes em termos energéticos;
- Táxi de motor único entre a pista e o terminal;
- Design de assentos de alta densidade, com assentos leves que, por isso, permitem reduzir o consumo de combustível.
Na minha interpretação e partindo do princípio
de que os ganhos de eficiência ambiental são calculados com rigor e que não há
nenhuma tentação comercial de viciação dos dados, podemos estar perante uma
companhia que se organiza em função da desregulação mundial e do aproveitamento
de oportunidades que ela suscita, mas que, simultaneamente, pode apresentar-se
como a mais eficiente ambientalmente.
Cheira-me que vamos assistir a mais contradições
deste tipo no capitalismo de hoje e do futuro.
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Em Abril deste ano, a Comissão Europeia publicou dados sobre as emissões provenientes das companhias aéreas a operar no espaço europeu em 2018, abrangidas pelo Comércio Europeu de Licenças de Emissão (CELE). Entre essas companhias, a Ryanair destacava-se por fazer parte do grupo dos 10 principais emissores de carbono da Europa (que tradicionalmente incluía só centrais a carvão). Ver: https://www.transportenvironment.org/press/ryanair-joins-club-europe%E2%80%99s-top-10-carbon-polluters
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