quinta-feira, 17 de outubro de 2019

CONTRADIÇÕES E AS MAIS QUE IRÃO SURGIR POR AÍ …



(Chegou à minha caixa de correio eletrónica uma mensagem comercial da Ryanair segundo a qual a companhia aérea se apresenta como a mais eficiente da Europa em termos de emissões de gases com efeito de estufa. Não deixa de ser curioso confrontar esta notícia, que admito ser verdadeira e não contaminada por habilidades do tipo das praticadas pela indústria automóvel, com outras características menos simpáticas para a comunicação da empresa.)

A emergência das companhias aéreas de baixo custo representou um avanço por vezes negligenciado da globalização, particularmente da chamada globalização das pessoas que, como é conhecido, constituiu durante largo a dimensão mais tímida da globalização, sobretudo quando confrontada com a globalização das mercadorias e serviços e dos capitais.

Nos tempos mais recentes, dimensões menos simpáticas ou recomendáveis deste tipo de companhias têm vindo a ser divulgados. É o caso dos múltiplos atropelos das leis laborais dos países, que são explicados à luz de um aproveitamento oportunista de uma evidência, ou seja, não existe legislação laboral a nível global ou nacional. Essa é uma das mais sérias contradições da globalização. Floresce mas o quadro regulador continua preso à dimensão nacional dos quadros legislativos dos países e mesmo nos blocos económicos como a União Europeia essa globalização do quadro legal não existe. É o caso também do modo como tais companhias jogam habilmente com os subsídios à abertura de ligações concretas, seja de autoridades regionais, seja mesmo de autoridades nacionais.

A mensagem comercial que me chegou pelo correio eletrónico da Ryanair situa a eficiência ambiental da empresa nos seguintes tópicos:

  • Voar ponto a ponto permite evitar emissões e ruído em excesso produzidos por voos indiretos;

  • Novas aeronaves mais silenciosas e eficientes em termos energéticos;

  • Táxi de motor único entre a pista e o terminal;

  • Design de assentos de alta densidade, com assentos leves que, por isso, permitem reduzir o consumo de combustível.

Na minha interpretação e partindo do princípio de que os ganhos de eficiência ambiental são calculados com rigor e que não há nenhuma tentação comercial de viciação dos dados, podemos estar perante uma companhia que se organiza em função da desregulação mundial e do aproveitamento de oportunidades que ela suscita, mas que, simultaneamente, pode apresentar-se como a mais eficiente ambientalmente.

Cheira-me que vamos assistir a mais contradições deste tipo no capitalismo de hoje e do futuro.

2 comentários:

  1. Em Abril deste ano, a Comissão Europeia publicou dados sobre as emissões provenientes das companhias aéreas a operar no espaço europeu em 2018, abrangidas pelo Comércio Europeu de Licenças de Emissão (CELE). Entre essas companhias, a Ryanair destacava-se por fazer parte do grupo dos 10 principais emissores de carbono da Europa (que tradicionalmente incluía só centrais a carvão). Ver: https://www.transportenvironment.org/press/ryanair-joins-club-europe%E2%80%99s-top-10-carbon-polluters

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