Volto aqui ao “caso Sylvie Goulard” (acima nas capas do trio que conta em França, o “Monde”, o “Libé” e o “Figaro”), mais um verdadeiro inédito numa União Europeia que vamos vendo em teimoso processo de refluxo/resistência/desintegração. Foi um golpe duro, sem dúvida para a própria (que volta à “Banque de France”) mas essencialmente para Emmanuel Macron – que não esconde a sua raiva perante a humilhação que lhe infringiram – e para Ursula von der Leyen (UvdL) – que bem dispensava este tão inoportuno presente entregue sob o alto patrocínio do seu pouco recomendável concidadão e correligionário Manfred Weber.
Para lá dos detalhes, de muita ordem, ainda por esclarecer, o que mais releva agora é olhar em frente: Macron, engolindo em seco e lambendo as feridas (até ao dia, claro!), na escolha de um bom nome de substituição e na garantia de um espetro de funções semelhante ao que estava atribuído a Syivie; UvdL, até ao momento bastante reservada em relação a tudo quanto tem ocorrido em matéria de audições – e os incidentes foram mais do que muitos e a uma escala inédita na história comunitária –, na resposta rápida aos bloqueios que ainda se lhe deparam (o francês, mas também o romeno e o húngaro, além de outros pormenores não irrelevantes) e na forma como for vier a evidenciar-se capacitada para domesticar as vozes dissonantes do PPE (e, naturalmente, da CDU) e, de caminho, para tomar as rédeas estratégicas de uma Comissão Europeia há demasiado tempo paralisada ou dominada pelo cinzentismo burocrático da máquina instalada.
Esta é verdadeiramente uma crise enganosa porque marcada por falas baixinhas e jogos de corredores/bastidores, mas é também uma crise perigosa e que tem de ser urgentemente atalhada sob pena de se poder transformar em mais um traumático contributo para a desunião e o declínio europeu...
(cartoons de Kak, http://www.lopinion.fr e Nicolas Vadot, http://www.levif.be)
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