Quando tudo parecia indicar que António Costa iria tentar garantir uma estabilidade governativa a médio prazo por via de um acordo assinado com o Bloco de Esquerda (BE), eis senão quando se apresenta na Comissão Política Nacional a propor uma governação assumidamente isolada (à Guterres, disseram alguns) que corresponde a uma espécie de navegação à vista, ou seja, a uma governação através de acordos parlamentares em geometria variável relativamente às diferentes forças políticas conjunturalmente disponíveis.
E assim se passou rapidamente à fase de montagem acelerada do novo governo – que será, aliás, um remake do anterior, embora não contando (ao que se diz e pelo menos) com José António Vieira da Silva, Francisca Van Dunem, Capoulas Santos, Ana Paula Vitorino e Manuel Heitor. A grande novidade poderá ser um ministério para o Turismo (certamente a cargo de Ana Mendes Godinho) e uma separação entre o Trabalho (que vai ser uma lavoura) e a Solidariedade e Segurança Social, além de alguns acertos instrumentais e menores a nível de distribuição de competências entre secretarias de Estado. Num exercício de pura adivinhação, arriscaria ainda que Tiago Brandão Rodrigues passará para a Ciência, deixando a Educação a Alexandra Leitão, que Mariana Vieira da Silva receberá a Segurança Social e que Miguel Cabrita ficará com o Trabalho e João Tiago Silveira com a Justiça; neste quadro, o Mar terá várias possibilidades de encontrar arrumação, não estou em condições de me referir a soluções para a Agricultura e a Administração Interna e sublinho que ainda falta ver qual o novo papel reservado ao versátil e nunca descartável Eduardo Cabrita.
A breve trecho arrancará, pois, um elenco governamental que não deixará de poder ser lido como relativamente gasto e até cansado, tanto mais quanto assentará na prata da casa e num certo fechamento em relação a novas e prestigiadas caras vindas da sociedade civil, Centeno será sempre visto como estando a prazo, os apoios parlamentares serão mais duros de roer e de mais elevado preço, há uma crise no horizonte, a situação interna da União Europeia não aponta para que dela possam vir contributos relevantes e a estrutura económica e social do País permanece frágil e duvidosamente capaz de aguentar grandes solavancos.
Saltando no tempo sem qualquer rede, adianto-me numa hipótese de continuidade baseada num completo desligamento concreto e até algo inconcebível e provocatória – e se, após dois anos de complexa experimentação, algo forçasse uma viragem visando um ciclo mais reformador? Tendo plena consciência de que invento um caminho quase utópico, aliás só admissível sem um afastamento de Marcelo que o dificultasse (provável!) e sobretudo dependente de que o PSD não se entregasse nas mãos de uma lógica primariamente direitista e vingadora (improvável!), antes conseguisse encontrar um líder compatível com uma espera inteligente e regeneradora (Carlos Moedas, p.e.) até ao momento de ser objeto daquela que seria uma necessária chamada ao campo das soluções...
(Fernão Campos, http://ositiodosdesenhos.blogspot.pt)
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