(Tal como o previ na minha síntese eleitoral de ontem, a
turba interna do PSD está aí para se mostrar. O partido atravessa uma tensão
altamente instável entre duas forças: a de Rio e de um conjunto de apoiantes do
qual ainda não consegui entender o seu racional que busca na tensão da
instabilidade a sua grande fonte de motivação política; a dos seus críticos que
entre outras motivações exaspera pelas perspetivas de afastamento do poder e
dos ganhos que essa proximidade proporciona. É com alguma preocupação que antecipo os efeitos
dessa tensão. É que em período de forte recomposição política à direita a queda
de um referencial social-democrata com algum perfil de centro político não se
recomenda.)
Em dia de mais uma viagem ao Alentejo (Évora),
para uma imersão num outono de 32-33 graus, só retemperado pela refeição na
joia de serena qualidade que a Tasquinha do Oliveira sempre representa, houve
necessariamente pouco tempo para grandes reflexões sobre a dinâmica política pós
6 de outubro. Até porque, a perceção de que o Alentejo vive hoje um fator crítico
de desenvolvimento determinado pela escassez absoluta de recursos humanos
qualificados e pela pouca ousadia municipal e regional no tecer de condições de
atração e fixação desses recursos humanos. É de facto um constrangimento de que
a Região começa hoje a ter uma perceção que diria generalizada. Pode dizer-se
que se trata de um efeito do declínio demográfico, mas não apenas. Por isso,
com esse tema a dominar a minha reflexão profissional determinada pela viagem
de trabalho tenho poucos elementos adicionais de reflexão sobre este rescaldo
político eleitoral.
Mas mesmo nessas condições deu tempo para
perceber que o turbilhão interno do PSD está aí de novo a bombar como se de
turbina nova se tratasse. As facas estão de novo afiadas e estes políticos mais
ou menos conspirativos já criaram um momento de suspense que é o tal jantar que
Luís Montenegro anuncia, creio que para Espinho. Nestas coisas há sempre um
jantar mistério, faz parte do ritual político e este não foge à regra. Eles estão
todos alinhados e certamente que suaram as estopinhas nas últimas semanas da
campanha eleitoral ao contemplarem o ligeiro ressuscitar de Rui Rio. Foram
tantos os nomes que piaram que se anunciam tempos de grande convulsão e para cúmulo
disto tudo o ex-Presidente Silva resolveu vir a terreno e emitir a sua douta
opinião sobre a sua tristeza com a derrota do PSD e até recordou a Maria Luís
da anca larga como uma grande injustiçada pela marginalização, dourada
entenda-se, que Rio lhe dedicou no rearranjo do partido após a sua entrada.
Rio é de facto um fenómeno estranho, mais um
que a política do Norte ofereceu à política nacional. O homem abespinha-se
contra tudo e contra todos, é a sua forma de motivação na política, ilusoriamente
convencido que alguém lhe predestinou algum papel relevante na sociedade e na
política portuguesa. Tem limitações, é pouco elaborado politicamente porque
confunde sinceramente essa elaboração com a sua pérfida representação da má política.
São traços indeléveis que vêm sempre ao de cima nos momentos críticos, como o
foi por exemplo o seu discurso de fim de noite eleitoral. Mas quando se
pressente que personalidades do calibre (de má memória, entenda-se) como
Relvas, Carreiras, Montenegro ou Cavaco investem contra ele até apetece
defender a sua posição. Pode parecer algo de paradoxal, mas é frequentemente a
situação em que me revejo.
Mas para lá das limitações do personagem
creio que não pode ser de ânimo leve que se assista, em contexto de forte
recomposição da direita em Portugal que se pressente nas entrelinhas, a um
esboroamento político do centro-direita ou mesmo centrista do PSD. Tal
esboroamento em contexto tão instável será presa fácil de toda a série de demónios
populistas e não só que andarão por aí à solta.
É sintomático que o líder dos patrões e
empresários António Saraiva se tenha mostrado relativamente otimista quanto à
margem de estabilidade das soluções que poderão resultar da vitória eleitoral
do PS. Ele lá sabe com o que conta à direita, o que não deixa de ser uma
estranha particularidade portuguesa cada vez mais difícil de explicar a um
observador exterior pouco acostumado às nuances da nossa política.
Seguem-se desenvolvimentos.
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