É da natureza da política moderna essa ideia de se sublinhar a presença de reformas por todo o lado. Confesse-se que, numa ótica de copo meio cheio, alguns resultados da governação (ou, melhor, alguns indicadores que se manifestam no tempo de uma determinada governação) revelam certas evoluções tendencialmente positivas que não serão despiciendas. Ao invés, e numa ótica de copo meio vazio, esses mesmos resultados escondem frequentemente situações estruturais de fragilidade que não só não devem ser escamoteadas como são mesmo aquelas que mais marcam a inexistência de caminhos realmente transformadores.
No que toca ao caso português, aqui deixo mais abaixo uma meia dúzia de dados objetivamente positivos – ou não será assim com os custos de financiamento de Portugal estarem a nível inferior aos de Espanha? Ou com a constante redução que se vai verificando na taxa de juro média associada à nova dívida emitida em cada ano? Ou com os quase 9,5 mil milhões de euros de dívida que o Ministério das Finanças conseguiu adiar entre 2016 e 2019? Ou com a baixa taxa de desemprego que vamos registando? Ou com o facto de a população em risco de pobreza estar ao seu nível mais baixo, tendo diminuído em meio milhão de pessoas nos dez anos mais recentes? Ou com a atratividade que vimos evidenciando em termos de captação residencial por parte de cidadãos estrangeiros? –, dados estes que foram trazidos a lume na comunicação social portuguesa dos últimos dias e que podem ajudar a decifrar o sentido do que atrás refiro.
Ou seja: uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa – alguns indicadores positivos são naturalmente algo de bom mas a mudança estrutural é bem mais do que isso e pressupõe outro tipo de registos positivos e, sobretudo, traços indiscutíveis em áreas que fazem a verdadeira diferença no médio prazo (da produtividade à inovação, da gestão à estratégia, da organização territorial à governança, do combate às desigualdades socialmente mais constrangedoras à expressão da sociedade civil, da clarividência das elites à justiça, da saúde à educação). Um assunto a revisitar mais profundamente, julgo que concordarão comigo.
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