(Um Governo nunca deve ser julgado pelos nomes, até
porque a ação reserva sempre surpresas para o bem e para o mal das expectativas
em torno de quem o integra. Mas há sinais e esses podem ser comentados.)
Não quero fazer a figurinha triste do
discurso algo requentado do PCP sobre estas matérias, quando olimpicamente
referem sempre que não comentam nomes mas antes políticas e essas não dependem
apenas de nomes e programas, há algo mais que se prende com o contexto político
e social em que a governação vai decorrer.
Mas a composição do novo governo que acaba de
ser anunciado após a reunião de António Costa com o Presidente da República
traz em si própria sinais evidentes de algumas tendências que marcarão muito
provavelmente a futura governação do PS nas novas condições de concertação com
as forças políticas à esquerda e com o PAN. Assim, há uma linha de continuidade
evidente dado o número de ministros e ministras que continuam (contrariando
muitas da mudanças que os papagaios da comunicação social anteciparam. Mas essa
continuidade é indissociável do recentramento de forças e do núcleo político
central em torno da confiança de António Costa (Mário Centeno, Pedro Siza
Vieira, Mariana Vieira da Silva e Augusto Santos Silva). Não é novidade o gosto
de António Costa governar estruturando a ação governativa em torno de um núcleo
forte de sua confiança política clara e inequívoca. Ora aqui está essa tendência
claramente manifestada neste Executivo, que é extensiva à passagem a ministras
de personalidades muito próximas do 1º Ministro, tais como a passagem de
Alexandra Leitão a ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública
e de Ana Mendes Godinho a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança
Social.
Quanto a novidades propriamente ditas, “mixed
feelings”:
- Maria do Céu Albuquerque com passagem do Desenvolvimento Regional a Ministra da Agricultura pode ter muitas leituras, desde a interpretação benigna de que se pretende um Ministério da Agricultura mais territorializado nas suas intenções até não ter explicação nenhuma a não ser necessidade de responder a um vazio qualquer;
- Ricardo Serrão Santos como Ministro do Mar parece-me trazer às questões sempre adiadas do mar, dos oceanos e questões conexas um cientista competente e com experiência de intervenção política; creio que pode ser uma surpresa agradável neste Governo;
- A minha bem conhecida das lides profissionais Professora Ana Abrunhosa com a criação de um Ministério para a Coesão Territorial poderá ser uma agradável surpresa sobretudo (o que sinceramente duvido) se houver vontade política séria do núcleo central do Governo para fazer entrar de vez a coesão territorial na política.
Em segundo passo, conhecendo nos próximos
dias a estrutura de secretarias de Estado em cada Ministério pode antever-se
mais alguma tendência forte. Para já, a única que me surge clara é a do
recentramento de forças, o que anuncia antecipação de tempos difíceis para a
governação neste novo contexto internacional e de concertação com as forças parlamentares
à esquerda.
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