terça-feira, 15 de outubro de 2019

O GOVERNO: COSTA RECENTRA FORÇAS



(Um Governo nunca deve ser julgado pelos nomes, até porque a ação reserva sempre surpresas para o bem e para o mal das expectativas em torno de quem o integra. Mas há sinais e esses podem ser comentados.)

Não quero fazer a figurinha triste do discurso algo requentado do PCP sobre estas matérias, quando olimpicamente referem sempre que não comentam nomes mas antes políticas e essas não dependem apenas de nomes e programas, há algo mais que se prende com o contexto político e social em que a governação vai decorrer.

Mas a composição do novo governo que acaba de ser anunciado após a reunião de António Costa com o Presidente da República traz em si própria sinais evidentes de algumas tendências que marcarão muito provavelmente a futura governação do PS nas novas condições de concertação com as forças políticas à esquerda e com o PAN. Assim, há uma linha de continuidade evidente dado o número de ministros e ministras que continuam (contrariando muitas da mudanças que os papagaios da comunicação social anteciparam. Mas essa continuidade é indissociável do recentramento de forças e do núcleo político central em torno da confiança de António Costa (Mário Centeno, Pedro Siza Vieira, Mariana Vieira da Silva e Augusto Santos Silva). Não é novidade o gosto de António Costa governar estruturando a ação governativa em torno de um núcleo forte de sua confiança política clara e inequívoca. Ora aqui está essa tendência claramente manifestada neste Executivo, que é extensiva à passagem a ministras de personalidades muito próximas do 1º Ministro, tais como a passagem de Alexandra Leitão a ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública e de Ana Mendes Godinho a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.

Quanto a novidades propriamente ditas, “mixed feelings”:

  • Maria do Céu Albuquerque com passagem do Desenvolvimento Regional a Ministra da Agricultura pode ter muitas leituras, desde a interpretação benigna de que se pretende um Ministério da Agricultura mais territorializado nas suas intenções até não ter explicação nenhuma a não ser necessidade de responder a um vazio qualquer;

  • Ricardo Serrão Santos como Ministro do Mar parece-me trazer às questões sempre adiadas do mar, dos oceanos e questões conexas um cientista competente e com experiência de intervenção política; creio que pode ser uma surpresa agradável neste Governo;

  • A minha bem conhecida das lides profissionais Professora Ana Abrunhosa com a criação de um Ministério para a Coesão Territorial poderá ser uma agradável surpresa sobretudo (o que sinceramente duvido) se houver vontade política séria do núcleo central do Governo para fazer entrar de vez a coesão territorial na política.

Em segundo passo, conhecendo nos próximos dias a estrutura de secretarias de Estado em cada Ministério pode antever-se mais alguma tendência forte. Para já, a única que me surge clara é a do recentramento de forças, o que anuncia antecipação de tempos difíceis para a governação neste novo contexto internacional e de concertação com as forças parlamentares à esquerda.

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