(Morreu uma mulher de eleição, de fé inquebrantável, animadora
de vários fóruns de pensamento, uma economista sensível e intérprete da chamada
economia estrutural, sempre com um olhar de curiosidade sobre os paradigmas
económicos interessados no social, nas questões da desigualdade, da inclusão e
da integração do combate à pobreza. É praticamente impossível substituir e estar à altura da
sua herança, sobretudo depois de que a nossa saudosa Maria Leonor Vasconcelos
Ferreira nos deixou já algum tempo, órfãos na FEP de quem pensasse tais matérias.)
Por não pertencer ao universo de fé e de
consciência religiosa que animava a obra de Manuela Silva nunca tive a honra de
privar mais de perto com a economista e militante cívica, como por exemplo os
amigos Jorge Bateira e Rodrigo Meireles a partir dos quais tive conhecimento da
sua morte. Mas sempre segui o seu pensamento e obra, desde os tempos do Plano
de Médio Prazo para a Economia Portuguesa no dealbar da democracia em Portugal e
das suas primeiras reflexões sobre o paradigma das necessidades básicas,
passando pelo que se ia conhecendo da sua reflexão no âmbito do grupo Justiça e
Paz. Mais recentemente, tal aproximação concretizou-se no âmbito de grandes “rassemblements” em torno dos temas da
pobreza e da desigualdade e da necessidade dos paradigmas económicas integrarem
no seu corpo teórico e empírico essas questões.
Tive sim oportunidade de em dois momentos ter
essa oportunidade, apresentando trabalhos e reflexões em grandes conferências,
coordenadas ou pelo menos fortemente participadas pela Professora Manuela Silva.
Foi o caso de uma das conferências iniciais sobre economia portuguesa organizadas
pelo CISEP – ISEG em que apresentei um paper designado de A degenerescência da base
moral da economia portuguesa, por mim recordado neste blogue em 25.10.2016 (ver
link aqui). Foi também o caso, mais tarde, de um outro paper apresentado numa
conferência na Gulbenkian: “Mudança estrutural e coesão social: algumas ideias
prospetivas sobre a economia portuguesa”. Conferência Um Futuro para a Economia,
Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa, Setembro de 2011.
Em ambos os momentos, particularmente no
primeiro, tive oportunidade de compreender de perto a força daquela Mulher, a
coerência do seu pensamento, a sua investigação permanente sobre os rumos que
ela desejava que a economia tomasse, sempre investindo contra a péssima e
infeliz ideia e prática de afastar a economia do mundo dos valores.
O seu desaparecimento deixa-nos um grande vazio.
Há investigação recente de gente mais jovem que pode continuar o legado de Manuela
Silva. Mas não com aquela força de argumentação e de convicção que a Professora
nos transmitia desde a sua reflexão mais diária até a peças mais elaboradas.
Desconheço as condições que precederam a sua morte
mas certamente que a aguardou austera e rigorosa como sempre.
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