(Há tempos que procurava situar esta passagem de Agustina
que permanecia não muito clara na minha memória e que me tinha influenciado
bastante nas minhas abordagens ao território. Hoje, relendo passagens de Os Meninos de Ouro, lá
estava ela preenchendo a nebulosidade da memória.)
Depois de uma breve digressão sobre os lavradores
do Douro e o início das convulsões da tradição, Agustina escreve o seguinte:
“ (…) Diferente do que pensam os economistas, uma área
produtiva não se destina apenas a ser rentável; sobretudo é uma área onde a
vida se condensa e se transmite. Representa uma condição histórica que se
reflecte e se repercute, pondo a tónica principal, não no lucro, mas sobretudo
na circulação da energia, que implica o lucro também. Mas que acentua a persuasão
da inteligência, do investimento moral. Pode acontecer que, mercê de uma
imobilidade sentimental, mais do que motivada por carência material, um território
se degrade e a crise se instale irremediavelmente. O perigo de uma civilização
local é o de ela se tornar incomunicável; com o Douro, com o Nordeste Transmontano,
com o país inteiro talvez, passa-se isto: ama a sua anexão ao hábito, à energia
que não dinamiza e que se circunscreve a uma intriga momentânea e suburbana. Nada
muda, tudo se converte em rotina. E, com ela, procede-se à sensibilidade barroca,
ao apanágio do pormenor, ao retraimento cívico em favor da gesta privada. Enquanto
se degusta a passividade, cai-se no arcaico. E a pessoa provincial dificilmente
se recupera para a universalidade da esperança, ficando-se no diálogo com os
mortos e o colóquio com os antepassados, elevados à qualidade de monitores pelo
conforto que a sua distância ministra”.
Agustina tem ao longo da sua vastíssima obra uma
multidão de passagens desta natureza, que são das melhores interpelações que
podem fazer-se à economia e, neste caso, à economia dos territórios. Esta está
recuperada. Outras esperam por tempo e pachorra.
Nota final: Embora a capa do livro que abre este post respeite à reedição cuidada das obras de Agustina a cargo da Relógio de Água, a minha releitura de Os Meninos de Ouro teve na velhinha edição da Guimarães e Cª Editores o seu momento.
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