Claro que a Turíngia é um caso especial no panorama político alemão. Mas, ainda assim, não deixam de ser sintomáticos e assinaláveis os resultados das eleições regionais que lá ocorreram no Domingo, designadamente pelo crescimento registado nos extremos do espetro partidário em detrimento dos partidos mais moderados e tradicionais – basta para tal constatar que, enquanto a CDU e o SPD passaram dos 46 lugares parlamentares na sequência das eleições de 2014 para os atuais 29, a AfD e o Die LInke evoluíram de 39 para 51 assentos (embora num quadro em que este último pouco mais que manteve o seu significativo peso eleitoral e aquele viu duplicada a sua força e presença – o cartunista fala em sinais...).
Vejamos a situação presente num plano nacional, recorrendo à mesma poll of polls em dois grafismos diversos e complementares. Em síntese: a CDU e o SPD caem abruptamente, aqueles vindos de 35% e estando a 28% e estes vindos de 20% e estando a 14%; os Verdes são a maior novidade em termos de crescimento (de 10% para 21%); a AfD cresce moderadamente (de 10% para 14%) mas já vale eleitoralmente o mesmo que os social-democratas. Moral da história: nada vai poder permanecer igual nem parecido na cena alemã dos próximos tempos – donde, incerteza e risco.
É precisamente neste quadro que surge um outro fator interessante associado ao processo de eleição de uma nova liderança para o SPD, após a imprevista demissão de junho por parte daquela que era tida por sucessora natural de Angela Merkel (Andrea Nahles). Após duas semanas de votação online e por correio eletrónico, seis pares de candidatos (um de cada género) recolheram uma participação de 53,3% dos 425 mil militantes do partido para um resultado bastante renhido, que conduzirá aliás à necessidade de uma segunda volta entre os dois pares mais votados. Sendo que o mais relevante decorre do facto de os dois pares qualificados defenderem posicionamentos estratégicos diversos para o SPD: um, onde impera o ministro das Finanças (Olaf Scholz), acompanhado por Klara Geywitz (uma pouco conhecida parlamentar de Brandenburgo), diz-se confortável com a atual “grande coligação” (GroKo); o outro, composto por Norbert Walter-Borjans (ex-ministro das Finanças da Renânia do Norte-Vestfália) e Saskia Esken (uma pouco conhecida parlamentar de Baden-Württemberg), apontam o caminho alternativo de um rompimento com a CDU e de maior afirmação própria do partido. Assim sendo, vai ser curioso de seguir o aprofundamento do debate interno a ocorrer nas próximas semanas, tal como vai ser decisiva a escolha final dos militantes, obviamente também enquanto elemento contributivo para a definição das grandes opções europeias de médio prazo.
(Barthold, https://de.toonpool.com)
Enquanto isto, e um pouco mais a norte, os belgas assistem a uma passagem de testemunho na liderança do seu governo, fruto da estranha saída de Charles Michel para a presidência do Conselho Europeu. A nova primeira-ministra passa a ser Sophie Wilmès, até agora ministra do Orçamento e por muitos considerada uma solução meramente transitória. A ver o que sai.
(cartoons de Pierre Kroll, http://www.lesoir.be)
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