quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

DO FECHAMENTO À DESORIENTAÇÃO?

(Jean Plantu, http://lemonde.fr)


Tenho evitado pronunciar-me sobre o fenómeno do coronavírus que se abateu sobre a China e, através dela, sobre o mundo. Aliás com implicações de algum modo ainda desconhecidas e imprevisíveis – estaremos no início de um processo que finalmente será controlável ou iremos observar uma epidemia em desgovernado alastramento? Há sinais num e noutro sentido, tendendo eu a admitir hoje que ninguém tem uma resposta precisa e firme sobre a matéria. Prefiro, por isso, ficar-me pelo registo do facto – quando já existem mais de duas dezenas de milhar de contaminados e se caminha para uma meia centena de mortos – e sublinhar uma repercussão sociopolítica que já começa a ser inequívoca: o isolamento da China (cada vez mais cortada do mundo) e as pressões internas que se pressentem em modo de crescente explosão dentro do gigante asiático. Ou seja: a potência em estrondosa afirmação no mundo global e o peculiar regime socialista de mercado que lhe subjaz poderão vir a ser abalados/postos em causa por algo de largamente exógeno em relação às contradições internas (cidade vs. campo, partido vs. sociedade civil, liberdade vs. autoritarismo, e por aí fora) que sempre se apontavam como elos fracos de onde talvez emergissem focos maiores de tensão e desequilíbrio. Vista a coisa por este prisma, sempre teremos de reconhecer ser este um dos encantos maiores que se nos apresentam quando observamos e analisamos as dinâmicas com que evoluem as modernas sociedades humanas.

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