domingo, 9 de fevereiro de 2020

GATO DE SETE FÔLEGOS?



(Só o futuro dirá se o congresso do PSD de Viana do Castelo representará ou não o início de uma trajetória de recuperação da sua antiga capacidade eleitoral e o ganho de estatuto de alternativa de poder. Por agora algumas confirmações e alguns diferimentos no tempo de ajustes de contas.)

Fazer coincidir o congresso de Viana do Castelo com uma noite de futebol daquelas que concentra, direi eu inexplicavelmente, a atenção mediática desse dia não lembraria a qualquer um, mas seguramente que lembrou a um Rio Rui que não perde ocasião para se demarcar de terreno tão lodoso, cada vez mais lodoso e à espera de um cataclismo de revelações, daquelas que faz o sistema judicial e tributário finalmente movimentar-se com convicção.

Aliás não se esperaria que jorrasse sangue daquele bem vivinho que todo o jornalista gosta de seguir os traços. Afinal as tropas alinhadas em torno de Luís Montenegro estariam lá, expectantes para o tempo futuro de algumas provas eleitorais e afinal as autárquicas já não estão longe. Por isso, porquê precipitações de ingenuidade? Marca-se posição (e a votação para o Conselho Nacional assim o mostrou) e espera-se, não se desaparece, mas faz-se figas para que o líder se estique ao comprido na próxima prova.

Se a escolha da noite de sábado do Congresso (a que costuma ser mais animada) pode considerar-se um grande risco, a semana orçamental na Assembleia da República deu-nos um PSD catavento quanto baste, conseguindo a proeza notável de ninguém ter entendido o alcance de tão sinuosas manobras parlamentares. E desta vez o líder estava lá, ou seja, não pode invocar o síndroma Joacine – Livre de falta de comunicação.

Rio parece transformado naqueles penitentes que se fustigam para se motivarem e darem o seu melhor após essa descida aos infernos.

Um congresso com estas características não é dos que ficará para a história do partido, mesmo que para isso consideremos a pequena política. A derrota da lista de Rio para o Conselho de Jurisdição Nacional deve-se mais a pequenas questões internas de choque de personalidades e a vitória de Paulo Colaço sobre Fernando Negrão não passa disso mesmo e não lhe atribui importância de maior.

Do Congresso fica sobretudo a reafirmação do posicionamento central e social-democrata de Rui Rio, o que não é coisa pouca, atendendo às nuvens que pairaram sobre o partido em termos de OPA da direita e do ir além da Troika que atraiu algumas personalidades que continuam órfãs de um partido com expressão eleitoral efetiva.

Não tenho a certeza se Rui Rio tem estaleca, pensamento e arte para afirmar essa centralidade social-democrata, tenho até bastantes dúvidas sobre essa capacidade. Mas do ponto de vista de um sistema político mais equilibrado, ver o PSD capturado por saudosistas da pseudo revolução do ajustamento Troika causar-me-ia apreensão e algumas náuseas, por isso dou pessoalmente a Rio o direito da demonstração da sua centralidade social-democrata. Vai ter algum tempo para isso, embora as próximas autárquicas sejam já um enorme desafio. Aliás terá tanto mais tempo quanto mais o PS resista aos tiques conhecidos da segunda legislatura no poder, que apontam para pequenas arrogâncias, baixar de guarda, confiança exagerada, mão demasiado larga para os inventores do costume e outras derivas a que estamos habituados na sucessão de poderes e legislaturas.

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