(Só o futuro dirá se o congresso do PSD de Viana do
Castelo representará ou não o início de uma trajetória de recuperação da sua antiga
capacidade eleitoral e o ganho de estatuto de alternativa de poder. Por agora algumas confirmações e alguns diferimentos no tempo de ajustes de
contas.)
Fazer coincidir o
congresso de Viana do Castelo com uma noite de futebol daquelas que concentra,
direi eu inexplicavelmente, a atenção mediática desse dia não lembraria a
qualquer um, mas seguramente que lembrou a um Rio Rui que não perde ocasião
para se demarcar de terreno tão lodoso, cada vez mais lodoso e à espera de um
cataclismo de revelações, daquelas que faz o sistema judicial e tributário
finalmente movimentar-se com convicção.
Aliás não se esperaria
que jorrasse sangue daquele bem vivinho que todo o jornalista gosta de seguir
os traços. Afinal as tropas alinhadas em torno de Luís Montenegro estariam lá,
expectantes para o tempo futuro de algumas provas eleitorais e afinal as autárquicas
já não estão longe. Por isso, porquê precipitações de ingenuidade? Marca-se
posição (e a votação para o Conselho Nacional assim o mostrou) e espera-se, não
se desaparece, mas faz-se figas para que o líder se estique ao comprido na próxima
prova.
Se a escolha da noite
de sábado do Congresso (a que costuma ser mais animada) pode considerar-se um
grande risco, a semana orçamental na Assembleia da República deu-nos um PSD
catavento quanto baste, conseguindo a proeza notável de ninguém ter entendido o
alcance de tão sinuosas manobras parlamentares. E desta vez o líder estava lá,
ou seja, não pode invocar o síndroma Joacine – Livre de falta de comunicação.
Rio parece
transformado naqueles penitentes que se fustigam para se motivarem e darem o
seu melhor após essa descida aos infernos.
Um congresso com
estas características não é dos que ficará para a história do partido, mesmo
que para isso consideremos a pequena política. A derrota da lista de Rio para o
Conselho de Jurisdição Nacional deve-se mais a pequenas questões internas de
choque de personalidades e a vitória de Paulo Colaço sobre Fernando Negrão não
passa disso mesmo e não lhe atribui importância de maior.
Do Congresso fica
sobretudo a reafirmação do posicionamento central e social-democrata de Rui
Rio, o que não é coisa pouca, atendendo às nuvens que pairaram sobre o partido
em termos de OPA da direita e do ir além da Troika que atraiu algumas personalidades
que continuam órfãs de um partido com expressão eleitoral efetiva.
Não tenho a certeza
se Rui Rio tem estaleca, pensamento e arte para afirmar essa centralidade
social-democrata, tenho até bastantes dúvidas sobre essa capacidade. Mas do
ponto de vista de um sistema político mais equilibrado, ver o PSD capturado por
saudosistas da pseudo revolução do ajustamento Troika causar-me-ia apreensão e
algumas náuseas, por isso dou pessoalmente a Rio o direito da demonstração da
sua centralidade social-democrata. Vai ter algum tempo para isso, embora as
próximas autárquicas sejam já um enorme desafio. Aliás terá tanto mais tempo
quanto mais o PS resista aos tiques conhecidos da segunda legislatura no poder,
que apontam para pequenas arrogâncias, baixar de guarda, confiança exagerada,
mão demasiado larga para os inventores do costume e outras derivas a que estamos
habituados na sucessão de poderes e legislaturas.
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