Resolvida a complexa intendência negocial visando a constituição de um governo, matéria que aqui seguimos com algum detalhe nas suas múltiplas contradições e perplexidades, Pedro Sánchez não perdeu tempo a atacar de frente a questão catalã. Como tinha, aliás, de ser face ao periclitante quadro político que se lhe depara e, em especial, face à sua significativa dependência relativa perante os independentismos. As reações internas têm vindo a ser largamente dominadas pela crítica feroz, com a imprensa mais à direita a dirigir-lhe em permanência acusações muito destrutivas e quase vexatórias. O encontro com Quim Torra em Barcelona foi o mais recente episódio a ser glosado nessa perspetiva, sendo sobretudo apontado que se trataria de uma provocatória “reabilitação” (ademais de um inabilitado) e de uma inaceitável cedência aproximativa das exigências separatistas. O certo é que, pelo buraco da agulha, o presidente do governo espanhol tenta desbloquear o diálogo com reconhecimentos e contrapartidas (mais investimento, mais financiamentos, mais transferência de competências e autonomia fiscal, designadamente) – um resultado positivo será mais improvável do que provável, mas sempre há que ter em conta quanto o persistente impasse que tolhe cada um dos quadrantes mais diretamente envolvidos e interessados se poderá repercutir em termos de crescentes disponibilidades conciliadoras, assim como quanto seria desejável e relevante uma solução que contribuísse para a libertação relacional e funcional de uma sociedade espanhola perigosamente cansada, desanimada e desorientada.
(cartoons de Felipe Hernández, “Caín”, http://www.larazon.es, José María Nieto, http://www.abc.es e José Manuel Esteban, http://www.larazon.es)
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