(Hoje é do conhecimento generalizado que a emergência e
concretização do BREXIT estiveram profundamente ligadas à perceção do medo que
a imigração provocou nas populações mais vulneráveis, mais velhas e menos qualificadas.
O que constitui agora interrogação é a perda de
intensidade das manifestações dessa perceção na sociedade britânica.)
As forças mais
agressivas e intrusivas que comandaram a progressão para o BREXIT manipularam
com arte e mestria as perceções dos britânicos em torno da imigração, aqui e
ali apimentadas com alusões ainda mais distorcidas ao terrorismo.
A conexão entre tais
perceções e os números da imigração no Reino Unido nunca foi clara e definitiva,
o que nada prejudicou a ilação que se pretendia inculcar na população mais
recetiva a tal mensagem. Poderá dizer-se que a manipulação dessa perceção da
imigração é de certo modo indissociável da ilusão de recuperação de glória
perdida que também foi veiculada junto da população mais saudosa dos “good
old days”. Porém, nos estudos de opinião realizados após o referendo e nos
anos seguintes acompanhando a opinião em torno de LEAVE, ficava claro que o
tema que mais puxava ao desejo de saída da União Europeia e á recuperação da
individualidade britânica era a questão da imigração.
Consumado o BREXIT e
embora ainda vá decorrer um completamente interrogado processo de negociação,
já com alguns sinais de hostilidade comercial (veja-se o caso dos pescadores na
zona do Canal da Mancha, com ingleses e franceses, primeiro os ingleses, a
cercear o acesso dos pescadores às suas águas), a verdade é que os temas da
imigração perderam força e estranhamente parecem desaparecidos.
Uma boa questão a colocar
é a de saber se a imigração terá regredido para justificar o apaziguamento
entretanto observado?
Simon Wren-Lewis que
foi dos intelectuais britânicos a desmontar em vão a pretensa ligação entre a
perceção do medo da imigração e a intensidade desta última regressou ao tema
para continuar a sua denúncia de que a conformidade da referida perceção não se
deve medir em relação aos números da mesma mas em relação a outros
referenciais.
O gráfico que abre
este post, que é apresentado por Wren-Lewis no seu último contributo
sobre a matéria é em si ilustrativo (link aqui).
A partir do referendo
sobre o BREXIT, o que é visível é que a imigração proveniente da União Europeia
desce significativamente (compreensível face aos resultados observados), ao
passo que a imigração proveniente de outros territórios que não a União
Europeia manteve um comportamento ascendente.
Na linha do que o
jornalista do Guardian Roy Greenslade assinalou (link aqui) no mês
passado e que Wren-Lewis recorda com pertinência, o que aconteceu é que a
imprensa britânica deixou de colocar pura e simplesmente o tema da imigração
nas primeiras páginas. O que mostra claramente que a perceção sobre a imigração
não foi construída sobre os números da mesma, os reais e efetivos, mas antes em
função de uma manipulação securitária da imprensa que suportou a progressão
para o BREXIT.
Não é algo que nós
não soubéssemos. Mas o que interessa aqui sublinhar é o padrão que esta
conclusão nos traz.
As perceções que
alimentam decisões políticas relevantes e que suportam o populismo mais
agressivo são construídas em função de manipulações grosseiras e de uma
imprensa que tem arte nessa construção. A imigração foi uma delas. Outras se
seguirão.
Ou alguém tem dúvidas
de que essa vai ser a via dos Correios da Manhã deste país e da sua captura da
TVI?
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