sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

TODO O SUPREMACISMO TENDE A SER XENÓFOBO E RACISTA



(De forma recorrente, o independentismo catalão tem deixado antever que muitos dos seus apoiantes continuam amarrados a uma visão supremacista do catalanismo, o que conduz diretamente ao racismo e à xenofobia. Sou dos que acredita que o catalanismo existe mas a sua costela supremacista é horrenda e deve merecer o combate que outros supremacismos mereceram ao longo da história)

Por muita paciência democrática que tenhamos para com as permanentes guinadas do independentismo catalão, seja entrando de má-fé em aproximações negociais, seja distorcendo a história e outras formas de construção viciada de imagens para sua autojustificação, não há pachorra para aturar a ideia da supremacia do povo catalão em relação aos restantes povos de Espanha.

Como seria expectável, o jogo permanente em torno da defesa da língua catalã, o que tem sentido numa Catalunha bilingue e não na tentativa de destruição pura e simples dessa característica da sociedade catalã, tem sido usado, sob as barbas do centralismo de Madrid, para agilizar e permanentemente agitar a bandeira do pretenso supremacismo catalão.

Embora a Esquerra Republicana não esteja afastada dessa deriva, os casos mais idiotas desse supremacismo têm sido lançados por gente afeta ao Junts per Cat de Puigdemont.

Em linha com o que vivenciei na Catalunha, teria de ser alguém das bandas de Vic, um dos bastiões mais poderosos do independentismo a borrar uma vez mais a pintura. Neste caso, a sua Alcaldesa e deputada do Junts per Cat no Parlamento da Catalunha, Anna Erra, saiu-se com esta de que “para seres um bom Catalão não fales castelhano” e foi por aí fora distinguindo entre os chamados catalães autóctones e os que o não são de verdade, considerando que o nome, sotaque e aspeto físico permitem reconhecer essa distinção.

Costumo contar a história repetida em algumas das nossas férias de verão na Catalunha em que avistava noutros apartamentos catalães “de gema” a beber o seu vinho por aquele porrón pontiagudo tão típico daquelas paragens. Uma coisa é a afirmação cultural de quem gosta de beber o seu vinho por tão estranho artefacto, outra coisa bem diferente é impor a toda a gente que beba o vinho daquela maneira.

Assim é a defesa da língua catalã no quadro de uma Catalunha bilingue. Outra coisa também diferente é usar o uso e domínio dessa língua como um símbolo de supremacia e construir ardilosamente a falsa ideia de uma Catalunha homogénea e de uma só língua.

Ora aqui está algo de muito importante para uma certa esquerda portuguesa que se deleita com as bravuras do independentismo catalão. Conviria perceber que não há supremacismo que não conduza ao racismo e à xenofobia e por isso é tempo de abandonar de vez a visão romântica e ingénua do independentismo catalão. Anna Erra, entre outras, está longe de ser a romântica e ingénua que resulta dessa perspetiva.

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