(De forma recorrente, o independentismo catalão tem
deixado antever que muitos dos seus apoiantes continuam amarrados a uma visão
supremacista do catalanismo, o que conduz diretamente ao racismo e à xenofobia. Sou dos que acredita que o catalanismo existe mas a sua costela
supremacista é horrenda e deve merecer o combate que outros supremacismos
mereceram ao longo da história)
Por muita paciência
democrática que tenhamos para com as permanentes guinadas do independentismo
catalão, seja entrando de má-fé em aproximações negociais, seja distorcendo a
história e outras formas de construção viciada de imagens para sua
autojustificação, não há pachorra para aturar a ideia da supremacia do povo
catalão em relação aos restantes povos de Espanha.
Como seria
expectável, o jogo permanente em torno da defesa da língua catalã, o que tem
sentido numa Catalunha bilingue e não na tentativa de destruição pura e simples
dessa característica da sociedade catalã, tem sido usado, sob as barbas do
centralismo de Madrid, para agilizar e permanentemente agitar a bandeira do
pretenso supremacismo catalão.
Embora a Esquerra
Republicana não esteja afastada dessa deriva, os casos mais idiotas desse
supremacismo têm sido lançados por gente afeta ao Junts per Cat de Puigdemont.
Em linha com o que vivenciei
na Catalunha, teria de ser alguém das bandas de Vic, um dos bastiões mais poderosos
do independentismo a borrar uma vez mais a pintura. Neste caso, a sua Alcaldesa
e deputada do Junts per Cat no Parlamento da Catalunha, Anna Erra, saiu-se com
esta de que “para seres um bom Catalão não fales castelhano” e foi por aí fora
distinguindo entre os chamados catalães autóctones e os que o não são de
verdade, considerando que o nome, sotaque e aspeto físico permitem reconhecer
essa distinção.
Costumo contar a história
repetida em algumas das nossas férias de verão na Catalunha em que avistava
noutros apartamentos catalães “de gema” a beber o seu vinho por aquele porrón pontiagudo
tão típico daquelas paragens. Uma coisa é a afirmação cultural de quem gosta de
beber o seu vinho por tão estranho artefacto, outra coisa bem diferente é impor
a toda a gente que beba o vinho daquela maneira.
Assim é a defesa da
língua catalã no quadro de uma Catalunha bilingue. Outra coisa também diferente
é usar o uso e domínio dessa língua como um símbolo de supremacia e construir
ardilosamente a falsa ideia de uma Catalunha homogénea e de uma só língua.
Ora aqui está algo de
muito importante para uma certa esquerda portuguesa que se deleita com as
bravuras do independentismo catalão. Conviria perceber que não há supremacismo
que não conduza ao racismo e à xenofobia e por isso é tempo de abandonar de vez
a visão romântica e ingénua do independentismo catalão. Anna Erra, entre
outras, está longe de ser a romântica e ingénua que resulta dessa perspetiva.
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