(Quase oitenta dias depois do início do meu confinamento,
sempre tonificado aos fins de semana de maio com as idas a Seixas, tive hoje a
minha primeira reunião de caráter profissional em termos presenciais. Tempo para algumas reflexões sobre a fase de abertura em que estamos já
mergulhados, com as cautelas típicas de um povo avisado e com alguma melhoria
de qualificações, e como ela se nota apesar do estado da arte ser ainda
insuficiente).
A minha primeira reunião presencial depois do recurso continuado ao ZOOM,
TEAMS, FACE TIME, SKYPE, sei lá o que mais, não poderia ser mais simbólica e
afetiva, no edifício da Reitoria da Universidade do Porto, onde em condições
estranhíssimas me licenciei em Economia entre 1968 e 1972 no sótão de tal
edifício. Não acreditam os mais jovens? Podem acreditar, foi mesmo assim, era
lá que funcionava a FEP do antigo regime.
No meu caminho de Vila Nova de Gaia para os Leões, a pensar algo ansioso como
seria a minha primeira reunião de máscara, segurança oblige, dei comigo deslumbrado
com uma manhã de Cidade mais parada do que desconfinada ou em abertura. Com
todo o tempo de uma Cidade praticamente sem tráfego, decidi gozar a amanhã pela
frente ribeirinha, até subir a Restauração para finalmente estacionar no parque
adjacente à Reitoria. Noutras ocasiões, aquela hora do meio da manhã aquela
zona da Cidade já fervilha, embora já nessa altura se pressentisse o peculiar
acordar de uma parte da Cidade, a da noite, que só retoma a atividade depois
das duas da tarde. Pois hoje, tudo se passava como se aquela parte da Cidade se
tivesse especializado na fruição galante da noite e que, por isso, estava a
recuperar ou de ressaca.
A Lello, sempre pressionada por hordas de turistas, pintava calmamente o
seu rosto frontal, leitores e frequentadoras da livraria nem vê-los, a zona comercial
dos Clérigos mantinha-se expectante e só a esplanada do Piolho revelava alguma
presença distanciada, onde recuperei a memória de um café seguro. Soube bem.
O visitante acidental nunca é rigoroso e por isso não vos sei dizer se é a ausência
do turismo que determina a calma matinal de hoje se também os serviços da zona,
a funcionar a um terço de gás.
Alguns autarcas têm vociferado por estes dias contra a estratégia de
formação não presencial que as Universidades prepararam para este confinamento
e abertura gradual. Afinal descobriram que as atmosferas urbanas de algumas das
Cidades estão indissociavelmente associadas à presença na rua de estudantes e
das suas peculiares atmosferas. Talvez não me engane muito se perguntarmos a
tais Autarcas se fizeram alguma coisa no passado para criar uma ambiência
habitacional favorável à atração de estudantes e encontrarmos evasivas ou
negativas mais ou menos firmes.
Os números continuam a dar-me razão, agora essencialmente voltados para as
concentrações fabris, logísticas e de transportes da aglomeração de Lisboa. A
exposição internacional do Norte aos mercados de exportação determinou essencialmente
o início do surto por estas bandas. Em tempos de disseminação interna, a
densidade das concentrações na zona de Lisboa explicará o resto. Como de
qualquer modo o país não está fechado entre si, estimo que o nosso “plateau”
esteja para durar com taxas de variação diárias entre os 0,5 e 1% de casos
confirmados. No coração da Área Metropolitana do Porto a situação parece
controlada, com um número diminuto de novos casos. Oxalá me engane, mas este
vai ser o nosso “normal” durante mais algum tempo. E por isso o afeto dos netos fica para as
expressões do Skype e do Face Time. Já é alguma coisa.
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