quarta-feira, 27 de maio de 2020

DESCONFINANDO … GRADUAL E PROGRESSIVAMENTE



(Quase oitenta dias depois do início do meu confinamento, sempre tonificado aos fins de semana de maio com as idas a Seixas, tive hoje a minha primeira reunião de caráter profissional em termos presenciais. Tempo para algumas reflexões sobre a fase de abertura em que estamos já mergulhados, com as cautelas típicas de um povo avisado e com alguma melhoria de qualificações, e como ela se nota apesar do estado da arte ser ainda insuficiente).

A minha primeira reunião presencial depois do recurso continuado ao ZOOM, TEAMS, FACE TIME, SKYPE, sei lá o que mais, não poderia ser mais simbólica e afetiva, no edifício da Reitoria da Universidade do Porto, onde em condições estranhíssimas me licenciei em Economia entre 1968 e 1972 no sótão de tal edifício. Não acreditam os mais jovens? Podem acreditar, foi mesmo assim, era lá que funcionava a FEP do antigo regime.

No meu caminho de Vila Nova de Gaia para os Leões, a pensar algo ansioso como seria a minha primeira reunião de máscara, segurança oblige, dei comigo deslumbrado com uma manhã de Cidade mais parada do que desconfinada ou em abertura. Com todo o tempo de uma Cidade praticamente sem tráfego, decidi gozar a amanhã pela frente ribeirinha, até subir a Restauração para finalmente estacionar no parque adjacente à Reitoria. Noutras ocasiões, aquela hora do meio da manhã aquela zona da Cidade já fervilha, embora já nessa altura se pressentisse o peculiar acordar de uma parte da Cidade, a da noite, que só retoma a atividade depois das duas da tarde. Pois hoje, tudo se passava como se aquela parte da Cidade se tivesse especializado na fruição galante da noite e que, por isso, estava a recuperar ou de ressaca.

A Lello, sempre pressionada por hordas de turistas, pintava calmamente o seu rosto frontal, leitores e frequentadoras da livraria nem vê-los, a zona comercial dos Clérigos mantinha-se expectante e só a esplanada do Piolho revelava alguma presença distanciada, onde recuperei a memória de um café seguro. Soube bem.

O visitante acidental nunca é rigoroso e por isso não vos sei dizer se é a ausência do turismo que determina a calma matinal de hoje se também os serviços da zona, a funcionar a um terço de gás.

Alguns autarcas têm vociferado por estes dias contra a estratégia de formação não presencial que as Universidades prepararam para este confinamento e abertura gradual. Afinal descobriram que as atmosferas urbanas de algumas das Cidades estão indissociavelmente associadas à presença na rua de estudantes e das suas peculiares atmosferas. Talvez não me engane muito se perguntarmos a tais Autarcas se fizeram alguma coisa no passado para criar uma ambiência habitacional favorável à atração de estudantes e encontrarmos evasivas ou negativas mais ou menos firmes.

Os números continuam a dar-me razão, agora essencialmente voltados para as concentrações fabris, logísticas e de transportes da aglomeração de Lisboa. A exposição internacional do Norte aos mercados de exportação determinou essencialmente o início do surto por estas bandas. Em tempos de disseminação interna, a densidade das concentrações na zona de Lisboa explicará o resto. Como de qualquer modo o país não está fechado entre si, estimo que o nosso “plateau” esteja para durar com taxas de variação diárias entre os 0,5 e 1% de casos confirmados. No coração da Área Metropolitana do Porto a situação parece controlada, com um número diminuto de novos casos. Oxalá me engane, mas este vai ser o nosso “normal” durante mais algum tempo.  E por isso o afeto dos netos fica para as expressões do Skype e do Face Time. Já é alguma coisa.

Sem comentários:

Enviar um comentário