(Hoje é dos tais dias, não sei se por culpa do calor se
devido a um dia intenso de reuniões on line, que os temas possíveis para blogar
são tão variados que se justifica um modelo de curtas e várias. Não sei se serei capaz de encontrar um fio condutor para tamanha variedade).
A primeira nota vem de uma moratória europeia para nos voltarmos a
convencer que a União Europeia é ainda viável e, que uma vez mais, após o caos
e a divergência de opiniões, lá se consegue uma solução de compromisso. Macron
e Merkel decidiram dar o peito às balas e a Presidente da Comissão Europeia
Ursula von der Leyen (e sei, não por informação privilegiada, mas por gente
insuspeita de favorecimento de opinião, que a “nossa” Elisa Ferreira se tem batido
competente e incessantemente por um bom resultado) apresentou o Plano para uma União de nova
geração. Com a importante brecha na ortodoxia até aqui reinante de que a
Comissão Europeia irá ao mercado financiar-se para aplicar em subvenções não
reembolsáveis e em empréstimos, sem beliscar as políticas de coesão e a
política agrícola comum. Que existe um mistério ainda por explicar que pode
ensombrar este momento e que consiste na estranha aliança dos forretas (Áustria,
Dinamarca, Países Baixos e Suécia) não o podemos ignorar. Aliás não penso que o
denominador comum dos quatro frugais seja a frugalidade, mas antes uma
significativa perda dos valores da solidariedade europeia, curiosamente comum a
várias orientações políticas e a social-democracia mostra ao que chegou em
alguns cantos da Europa.
Podemos questionar se o rombo orçamental provocado pela pandemia em Portugal
poderá ou não ser colmatado com esta ajuda. Imagino que não, já que a retoma da
atividade económica não vai ser indiferente aos rumos de prolongamento ou desaceleração
forte da pandemia e tudo ainda é indeterminado nesta altura, porque ainda não as
comunicações aéreas a bombar. O José Pacheco Pereira incomodava-se ontem no
Circulatura com o risco das ditas reformas estruturais da condicionalidade
trazerem a missa do costume, com o enviesamento do costume dessas reformas em
favor de opções de organização económica e social ideologicamente teleguiadas.
Não ouvi nada disso no discurso de Ursula. O que ouvi foi a necessidade de os países
demonstrarem que aplicam o guito em linha com as agendas europeias. O que não me
parece nada de obsceno, afinal é a Comissão Europeia que vai ao mercado, logo
as agendas europeias (por mais necessário que seja discuti-las criticamente e
não como papalvo à espera de fundos) não podem estar fora da equação. Mas será
esta a condicionalidade? Veremos, mas recuso-me a acreditar que o bando dos
quatro comprometa o ressurgir da esperança.
Uma outra curta reflexão ainda está voltada para a Espanha e para o
desconchavo que a pandemia abriu na governação central e multinível. Por mais
lamentável e choque que isso nos provoca, a Espanha vizinha nem consegue contar
decentemente os seus mortos com a pandemia. Ponto e é bastante para percebermos
o desconchavo.
Esta crise pandémica tem trazido ao nosso conhecimento mediático gente do
melhor em termos de coerência, sensatez e serviço público. Gente que felizmente
ofusca os videirinhos destas coisas que pequeninos à Marques Mendes ou
pequeninos de cabeça se colocam a toda a pressa em bicos de pés para ficar nas
fotografias a qualquer preço, mesmo que seja por terrorismo opinativo. O Professor
António Sarmento, Diretor do Serviço de Infecciologia do Hospital de S. João é
uma dessas personalidades sensatas que sabe bem ouvir e que compensa todo o
ruído que a comunicação nos traz. Pois o Professor com a sua candura e modéstia
veio dizer-nos que é preciso coerência comunicacional para conquistar a dita
confiança. Assim, ele não compreende, e como bem pensa, como é possível
autorizar voos das companhias aéreas sem encurtamento significativo de lugares ao
mesmo tempo que se impõe a distância social como um modelo. E tem toda a razão
ao denunciar essa incoerência. Bem sei que a imagem das frotas aéreas paradas
em terra impressiona qualquer um, sobretudo aos mais sensíveis ao taxímetro das
despesas por cada dia de imobilização de frota e pessoal. Por isso, penso que a
questão do transporte aéreo sobretudo o de longo curso dificilmente voltará a
ser o mesmo nos tempos mais próximos.
A terceira curta é por inerência a questão da TAP. Temos aqui outro domínio
em que a evolução do quadro normativo europeu fez ascender à ideia de pecado
mortal a nacionalização das companhias aéreas. Neste quadro perturbado, a
posição mais sensata parece ser a de António Lobo Xavier que se insurgiu contra
a belicosidade dos administradores e gestores da TAP para lidar confortável e
eficazmente com o acionista Estado. E já sabemos que o Engº Jorge Coelho está
disposto a empenhar as barbas que não tem pelas boas práticas de gestão do
então Engº Fernando Pinto que ao que parece deu carta positiva à entrada do
artista atual. Imagino que o Pinto se tenha dado bem com o então ministro da tutela
Coelho. Mas dispensávamos bem ter-nos metido até ao pescoço na compra ruinosa
da empresa de manutenção no Brasil. Todos somos sérios até prova em contrário,
mas um brasileiro em Portugal a recomendar a compra de uma empresa brasileira
põe os cabelos em pé até ao mais careca. Por isso, até dou de barato que a
nacionalização esteja inviabilizada, mas exigir uma administração que não crie
falsos problemas é o mínimo que se impõe para colocar os aviões no ar. Com o
país de Bolsonaro e dos asnos que viabilizaram o seu acesso ao poder (alguém se
lembra das razões que determinaram o “impeachment” de Dilma?) todo o cuidado é pouco até em termos de proteção pandémica.
E finalmente a revelação uma vez mais de uma das nossas mais profundas
insuficiências estruturais. O Público de hoje transmite-nos a evidência de que
o tão esperado programa Ferrovia 2020, com 2.000 milhões de investimento, fica
aquém de uma efetiva modernização infraestrutural. Por outras palavras,
essencialmente eletrificação e sinalização mais moderna, mas nada de correções
estruturais de vias para tirar todo o partido da velocidade e ganhar
competitividade na mobilidade tempo. Dou-vos um exemplo para ilustrar bem este
faz que faz. Há por aí boas almas que acreditam que o Alfa Pendular poderá
evoluir até Vigo, satisfazendo os galegos e proporcionando à parte portuguesa a
oportunidade de enlace fácil com o comboio de alta velocidade entre Vigo e
Madrid. Já por repetidas procurei demonstrar que esse projeto é incompatível
apenas com a eletrificação e sinalização moderna que está em curso. São
necessárias intervenções físico-infraestruturais que não estão equacionadas.
Por isso, sempre disse que nunca veria o Alfa a passar na minha varanda de Seixas,
com a linha de caminho de ferro do Minho a passar num horizonte visual de 200
metros. Mas as boas almas continuam a insistir. O artigo do Público mostra que
tenho razão. Na grande generalidade das linhas, incluindo a do Norte, não basta
a modernização de segurança e sinalética para assegurar a competitividade de
uma ligação que desde os meus tempos de serviço militar em Lisboa (1973) anda
pelas 3 horas. Com ou sem pandemia.
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