sexta-feira, 29 de maio de 2020

O MARXISMO CULTURAL SEGUNDO CHICÃO


Acordo frequentemente com a TSF e as suas notícias de uma dada hora certa, assim como procuro de seguida ouvir o Bruno Nogueira, o Fernando Alves e pouco mais. Mas acontece-me às vezes cair em tentações estúpidas, como foi o caso de ontem perante o anúncio de uma entrevista de Anselmo Crespo ao presidente do CDS, Francisco Rodrigues dos santos, vulgo Chicão. Absolutamente confrangedor! A ponto mesmo de me aproximar de uma estranha compaixão. Ora vejam só como terminou a entrevista e aquilatem a qualidade do “bicho” (como se diz na minha terra):
“Essa [marxismo cultural] é uma expressão designada para qualificar aqueles que entendem que nós não recebemos um legado das gerações anteriores que temos que preservar, que ao longo da História não há tradições que devam ser respeitadas, que não há valores perenes, comuns e que o contrato social não se faz entre os vivos, os mortos e aqueles que estão por nascer, que nós não temos que preservar uma certa cultura e institutos da sociedade e convenções sociais que são importantes para manter a ordem e para conseguirmos uma evolução bem orientada das coisas. Portanto, às vezes fala-se do progressismo como uma destruição de tudo aquilo que ficou para trás, do legado que recebemos, da herança das gerações anteriores, portanto se essa ideia de marxismo cultural, de luta por valores, de querer implementar uma tábua rasa em tudo aquilo que recebemos e confundir conceitos, baralhar consciências e provocar permanentemente um conforto do ponto de vista dos princípios e dos valores, enfim... Claro, há ideologias que procuram construir um homem novo e afirmar uma ideia de futuro um bocadinho desregrada e desconexa de todo este contexto de séculos.

E, pérola das pérolas, confrontado com uma insistência do jornalista (“acha que isso existe em Portugal?”), arrematou nestes termos:
“Eu acho que existe, sim. Eu acho que existe. Pode-se chamar outra coisa, por exemplo pode não se chamar marxismo cultural, se quiser pode-se chamar subjetivismo, pode-se chamar individualismo, pode-se chamar corrupção, pode-se falar de falta de solidariedade, pode-se falar de ausência de compromisso, de amor intergeracional, pode-se falar de algum tipo de relativismo, enfim pode ter várias formas, enfim...”. Palavras para quê? Trata-se, afinal, de um artista português, apenas se dá a triste coincidência de que esteja no momento ao leme (?) de um CDS que, já tendo passado por momentos mais altos e mais baixos, se constituiu por cá (com Freitas do Amaral e Amaro da Costa, com Adriano Moreira e Lucas Pires, com Ribeiro e Castro e Nobre Guedes e até com Paulo Portas e Assunção Cristas) numa reserva segura de um espaço político democrático à direita – um partido que está hoje, pois, manifestamente à deriva e em claro risco de vida perante a sua própria incapacidade de ripostar com mínimos de inteligência e valores à ascensão populista de André Ventura. Por este andar...

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