(Já há muito que as crónicas de Paul Krugman no New York
Times não eram aqui comentadas. Razões que se combinam justificam essa ausência.
Foco quase permanente no desconchavo Trump por parte de Krugman, o que justifica
alguma distância por razões de equilíbrio. Necessidade de ir diversificando as
referências de comentário da minha parte. É altura de contrariar essa tendência recente com a crónica de hoje (link aqui).
A tendência entre o
jornalismo económico e também nalguma literatura mais académica inspirada por
alguns pensamentos de Paul Samuelson sobre a matéria para considerar o
comportamento da bolsa como uma espécie de “indicador avançado” do comportamento
do produto das economias é bastante conhecida. Claro que nesta como noutras
questões, enfrentamos sempre a dependência do que se passa na economia
americana. E nem sempre a extrapolação da economia americana para o mundo é
desprovida de riscos.
A invocação do poder
preditivo das bolsas é sugestiva, pois como nela se cruzam grande parte dos
tipos de comportamento que alimentam os mercados, de pânico, de contágio, de
ganância, de expectativas diversas e combinadas, isso equivaleria a reforçar a
ideia do poder inexorável desses mercados para controlar a economia e até
indiretamente a ação dos governos. Todos ainda nos recordamos como em plena
fase dura e penosa do ajustamento em Portugal papagaios de diferentes cores e
proveniências nos martelavam a paciência todos os dias com a proclamação do dictat
dos mercados.
Em teoria, esse pode
preditivo funcionaria em ambos os tempos do ciclo. Em expansão anunciando
processos especulativos e de booms em alguns setores económicos. Em clima mais
recessivo, anunciando perdas futuras do produto. Claro que para economistas prestigiados
como Schiller, por exemplo, a por ele estudada exuberância irracional dos
mercados pode atirar por terra essa capacidade de antecipação e recomendar
métodos mais robustos para antecipar o comportamento do produto real das
economias.
O que Krugman nos
traz na sua última crónica é a notícia de um mistério que se abate hoje sobre a
economia americana. A já gigantesca incidência da crise sanitária do
coronavírus nos EUA, com perspetivas diferentes acaso a consideremos no quadro global
da grande dimensão da economia americana ou no quadro de determinados
territórios (Nova Iorque, por exemplo) atirou o produto real americano para
quedas brutais, já superiores à ocorrida na Grande Recessão de 2007-2008. E se
completarmos o quadro com a devastação do desemprego então compreendemos a
desorientação de Trump em querer reiniciar a qualquer preço a reabertura da
economia americana, eleições oblige.
Como moral da
história, Krugman diz-nos que, em vez de seguirmos obsessivamente o Dow Jones
(exceto para os jogadores claro está), olhemos para a destruição de emprego e
para as perspetivas animadoras ou sombrias da sua recuperação. Compreenderemos
melhor o comportamento da economia real e iremos além dos pânicos, ganâncias e
especulações.
Uma boa conclusão
para estes tempos.
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