(Um dos produtos laterais da crise pandémica consistiu na
revisitação por alguns analistas da problemática da habitação. Essa revisitação
revestiu várias formas. Da crise do alojamento local e possível libertação de
fogos para arrendamento, à reconsideração do habitat caseiro para fazer face ao
trabalho à distância e organização das novas relações trabalho-lazer, passando ainda
pelas questões do habitat exterior e da convivialidade dos espaços de inserção
públicas das nossas habitações muito se tem discutido e opinado. Pareceu-me que um bom elemento de contextualização dessas discussões
compreender o que representa para nós Portugueses a habitação em termos de peso
no rendimento.
Um alerta atento do Eurostat traz-nos números para 2018 e uma visão
comparativa da União Europeia a este respeito.
O indicador proposto mede uma espécie de taxa de esforço das famílias
relativamente às despesas de habitação. É determinado pela percentagem de cidadãos
que gasta 40% ou mais nessa fatura mensal. Portugal não apresenta um valor
elevado no plano comparativo europeu, seja porque tem uma percentagem inferior
à média, seja porque comparativamente a alguns países tem de facto um valor
bastante baixo.
Não é fácil encontrar um racional explicativo para estas diferenças. Se é
um facto que entre as percentagens mais elevadas estão países com níveis
relativos de preços de serviços reconhecidamente elevados (Suiça, Noruega,
Reino Unido, Dinamarca, Alemanha), já por exemplo a Suécia que se encontraria
nesse grupo de referência tem valores abaixo da média europeia. Já por exemplo
os valores da Grécia e da Bulgária só poderão ser entendidos no quadro de mercados
especulativos de habitação ou de ausência completa de mecanismos de compensação
pública para os desvarios do mercado.
Curiosamente, Portugal surge rodeado seja de países de Leste e dos países
bálticos.
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