“Um vírus que não joga com a geografia”, uma questão de muita pertinência e que já me tinha passado pela cabeça em distintas iterações. Com efeito, a distribuição geográfica da pandemia que vai sendo comunicada evidencia incompreensíveis variações na difusão da doença (casos e mortes) entre continentes, países e regiões – do que o jornal francês que ontem divulgou a capa acima tira por consequência que assim se põe em destaque “o papel dos governos, dos indivíduos e, por vezes, do acaso”. Nada a dizer, fair enough, incluindo um lugar cada vez mais justamente atribuível a elementos random (o acaso que já Michael Porter considerava no seu célebre “diamante” explicativo da competitividade nacional das nações). Não obstante, talvez também não devamos excluir no tratamento da matéria em causa as caraterísticas específicas de alguns países e a diferenciada qualidade institucional que os marca, aspetos que nos conduzem à pobreza mais ou menos absoluta que grassa pelo mundo, às zonas de vida urbana marginal que se espalharam pelas metrópoles urbanas, a interiores praticamente desconhecidos e inacessíveis que ficam verdadeiramente fora de tudo quanto é civilização, assim conduzindo a correspondentes ausências de registos médicos e estatísticos ou de mínimos de fiabilidade nos existentes. No final das contas, só sabemos que a informação que circula é necessariamente distorcida e deficiente, ou seja, só sabemos que sabemos mesmo muito pouco; ah, e volto ao início: que há indivíduos e governos que fazem a diferença, aqui e ali, em termos de contributos para o conhecimento ou de intervenções concretas, focadas e úteis – e vice-versa, claro.
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