quarta-feira, 6 de maio de 2020

THE DEATHS OF DESPAIR



(Angus Deaton e Anne Case já tinham alertado com investigação relevante publicada em artigos ou peças de opinião acerca de um sinal de degradação das condições de saúde da sociedade americana, não limitada aos setores mais desfavorecidos como população hispânica ou negra. A publicação de DEATHS OF DESPAIR AND THE FUTURE OF CAPITALISM em livro e pleno impacto da crise sanitária nos EUA talvez não fosse programada nesse sentido, mas que tem um significado inequívoco disso não tenho dúvidas.

Consultei mesmo agora a página do John Hopkins University Center e os EUA já vão com 1.202.246 casos confirmados de COVID-19 e 70.900 mortes, das quais 25.073 registaram-se em Nova Iorque.

Implacável como sempre, Bradford DeLong questionava hoje em termos simples o que se passa nos EUA: “Porque é que para mim não é surpresa que o mais incompetente, ignorante e indisciplinado e inimaginável presidente suportado pelo pior e mais corrupto partido político no mundo gera a pior resposta ao coronavírus no mundo?

Palavras duras, com evidência pura, e que nos faz suspeitar o pior de um povo que elegeu este personagem e lhe continua a dedicar um apoio consistente, pelo menos em alguns dos seus grupos ou mais corruptos ou menos letrados.

Angus Deaton (Nobel de Economia em torno das questões da pobreza e da sua medida) e Anne Case uma prestigiada economista da saúde publicaram em março deste ano o seu DEATHS OF DESPAIR AND THE FUTURE OF

 CAPITALISM, depois de o terem apresentado em peças separadas desde há algum tempo, nomeadamente no encontro de janeiro da American Economic Association.

Os dois economistas não se têm cansado de denunciar o absurdo trágico dos EUA poderem dispor de um sistema de saúde de qualidade e excelência e, em negação absoluta dessa possibilidade, assistirem a uma trágica degradação das condições de saúde da sociedade americana, por meras razões ideológicas e de defesa violenta dos interesses privados (link aqui).

A investigação de Deaton e Case mostra uma perturbadora descida da esperança de vida de população branca nos escalões dos 40 e dos 50, com morbilidades diversificadas típicas de degradação humana – suicídio, morte por uso excessivo ou descontrolado de drogas, várias patologias de doença do fígado, etc.

Quer isto significar que a pandemia nos EUA para além de se abater sobre população indefesa e historicamente desfavorecida, como a população negra mais pobre e a população hispânica, vem fulminar e dar aprofundamento a um fenómeno de degradação das condições sanitárias.

Se o DEATHS OF DESPAIR já era, em qualquer circunstância, uma obra de profundo abanão na sociedade americana que quer ouvir, hoje num cenário do que de pior o mundo teve em matéria de abordagem à pandemia imaginamos o seu alcance redobrado.

Será que a campanha de Biden vai explorar este libelo?

O mero facto de perguntar já sugere o meu mais profundo pessimismo sobre o que se antevê para a sociedade americana.

Uma boa recensão do livro no New York Times pode ser encontrada aqui (link aqui) e o Financial Times também lhe dedicou a relevância que merece (link aqui).

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