(Angus Deaton e Anne Case já tinham alertado com
investigação relevante publicada em artigos ou peças de opinião acerca de um
sinal de degradação das condições de saúde da sociedade americana, não limitada
aos setores mais desfavorecidos como população hispânica ou negra. A publicação de DEATHS OF DESPAIR AND THE FUTURE OF CAPITALISM em livro e pleno
impacto da crise sanitária nos EUA talvez não fosse programada nesse sentido,
mas que tem um significado inequívoco disso não tenho dúvidas.
Consultei mesmo agora
a página do John Hopkins University Center e os EUA já vão com 1.202.246 casos
confirmados de COVID-19 e 70.900 mortes, das quais 25.073 registaram-se em Nova
Iorque.
Implacável como
sempre, Bradford DeLong questionava hoje em termos simples o que se passa nos
EUA: “Porque é que para mim não é surpresa que o
mais incompetente, ignorante e indisciplinado e inimaginável presidente
suportado pelo pior e mais corrupto partido político no mundo gera a pior
resposta ao coronavírus no mundo? “
Palavras duras, com
evidência pura, e que nos faz suspeitar o pior de um povo que elegeu este
personagem e lhe continua a dedicar um apoio consistente, pelo menos em alguns
dos seus grupos ou mais corruptos ou menos letrados.
Angus Deaton (Nobel
de Economia em torno das questões da pobreza e da sua medida) e Anne Case uma
prestigiada economista da saúde publicaram em março deste ano o seu DEATHS OF
DESPAIR AND THE FUTURE OF
CAPITALISM, depois de o terem apresentado em
peças separadas desde há algum tempo, nomeadamente no encontro de janeiro da
American Economic Association.
Os dois economistas
não se têm cansado de denunciar o absurdo trágico dos EUA poderem dispor de um
sistema de saúde de qualidade e excelência e, em negação absoluta dessa
possibilidade, assistirem a uma trágica degradação das condições de saúde da
sociedade americana, por meras razões ideológicas e de defesa violenta dos
interesses privados (link aqui).
A investigação de
Deaton e Case mostra uma perturbadora descida da esperança de vida de população
branca nos escalões dos 40 e dos 50, com morbilidades diversificadas típicas de
degradação humana – suicídio, morte por uso excessivo ou descontrolado de
drogas, várias patologias de doença do fígado, etc.
Quer isto significar
que a pandemia nos EUA para além de se abater sobre população indefesa e
historicamente desfavorecida, como a população negra mais pobre e a população
hispânica, vem fulminar e dar aprofundamento a um fenómeno de degradação das
condições sanitárias.
Se o DEATHS OF DESPAIR
já era, em qualquer circunstância, uma obra de profundo abanão na sociedade
americana que quer ouvir, hoje num cenário do que de pior o mundo teve em
matéria de abordagem à pandemia imaginamos o seu alcance redobrado.
Será que a campanha
de Biden vai explorar este libelo?
O mero facto de
perguntar já sugere o meu mais profundo pessimismo sobre o que se antevê para a
sociedade americana.
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