quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

A ADORMECIDA ESQUERDA FRANCESA

(Pierre Kroll, http://www.lesoir.be) 

(Jean Plantu, https://twitter.com)

É por demais conhecida a crise da esquerda francesa (e do Partido Socialista, em particular), afastada de há muito das grandes decisões nacionais e europeias ― verdadeiramente, desde o fim dos mandatos de François Mitterrand em 1995, já que a exceção mais recente de François Hollande mais não foi do que um arremedo de exercício de poder dotado de um rumo. Todos os dados indicam que as próximas presidenciais não serão ainda um momento de alguma reafirmação desta área política, nenhuma sondagem existindo que lhe atribua um mínimo de hipóteses de passagem à segunda volta.

 

Também é certo que os quatro mais significativos candidatos (já que Arnaud Montebourg teve a lucidez de desistir há cerca de quinze dias e os demais são provenientes de frações partidárias sem significado) não se conseguem entender quanto a um possível acordo para uma junção de forças, o que umas recentíssimas e algo estranhas (porque não reconhecidas pela maioria deles) “primárias” também não logrou resolver ― segundo estas, seria a última que entrou em cena, a antiga ministra da Justiça Christiane Taubira, a selecionada como preferida, não obstante as sondagens tenderem mais para o lado do heterodoxo Jean-Luc Mélenchon, embora sempre bastante longe de qualquer perspetiva vencedora; sendo que, entretanto, a maire de Paris, Anne Hidalgo, não sai inexplicavelmente do sítio em termos de projeções, enquanto o verde Yannick Jalot parece mais interessado em afirmar o seu espaço ecologista muito próprio do que em realmente disputar (ou ajudar a disputar) a vitória final.

 

E assim sendo, ademais evidenciando a esquerda francesa não apenas uma enorme incapacidade de diálogo interno mas sobretudo uma indisfarçável impotência para se refazer à luz das exigências programáticas dos tempos modernos, resta-lhe penar e esperar por melhores dias (que ninguém jurará que possam chegar). Aqui fica este alerta relativamente a uma marcante matéria de facto, alerta esse que não pode deixar de se constituir numa lição a considerar em outras realidades com problemas similares ou aproximados, sejam eles já bem reais ou ainda somente potenciais ― não valeria, por exemplo, a pena que o nosso absoluto PS aproveitasse os quatro anos de poder estabilizado para trabalhar aquelas que são as suas já visíveis fragilidades, designadamente em termos de implantação, capacidade de mobilização (sobretudo dos jovens) e sentido estratégico de proposta?




(Corinne Rey, “Coco”, https://www.liberation.fr)

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