(Muitas vezes, o que se passa no campo, a classe de alguns, o primor do coletivo, a emoção do imponderável, o sentido tático e estratégico de quem orienta fazem-nos esquecer o que se passa a montante do espetáculo, por mais sórdido e de caos organizativo que seja, não devia ser assim, mas acontece e todos os que gostam de futebol sem perder a lucidez sabem disso. Mas também acontece que o que se desenrola aos nossos olhos, seja presencialmente, seja com a ajuda da poltrona e de uma bebida, alinha com o que conhecemos a montante e aí tudo se encaixa, finalmente. O caos perfeito. Acho que foi algo do género que o Porto-Sporting de ontem à noite nos trouxe.)
Bem sei que ontem era um espectador neutro que se sentava na poltrona, embora mais interessado na vitória do Porto, por razões óbvias. O primeiro lugar é uma miragem e uma derrota do Sporting colocar-nos ainda com alguma esperança do segundo lugar, ao que chegámos Caro SLB. Por isso, talvez se fosse parte interessada e direta não tivesse gerado esta perceção. Mas é o que é e o que acho que ontem aconteceu foi um espetáculo deprimente. E houve de tudo para o caos perfeito. Arbitragem não corajosa sucumbindo frequentemente à pressão do momento, cultura desportiva dos jogadores deprimente, permanentemente na reivindicação de uma putativa falta, fazendo da provocação uma norma, simulando quanto baste, pressionando a arbitragem para lá dos limites aceitáveis, bancos em efervescência doentia, confusão total na família de agentes presentes no recinto de jogo, nervos à flor da pele para lá dos limites da decência. A minha jovem neta, portista de quatro costados, estava perplexa perante aquilo que se manifestava no écran e tive grande dificuldade em explicar-lhe o que de mau e deprimente estava ali a acontecer.
A confusão inqualificável do fim de jogo, já claramente antecipada pelo fim da primeira parte, é digna de uma República das Bananas, mas não é mais do que a lógica e natural consequência daqueles traços que se foram manifestando ao longo do jogo. Porque, metaforicamente, aquela confusão indiscriminada e aquele violento granel eram a imagem no campo do que se passa a montante e, pelo que contam os jornais, prolongou-se para o mundo dos tweets e do parque de estacionamento, pelos vistos (de novo a confiar no que os jornais dizem) com alguém de peito feito a mostrar que pode ser o SUCESSOR …
Mas verdadeiramente o que mais me impressiona desportivamente é a cultura desportiva dos jogadores, sempre mais interessados na chamada da atenção a quem arbitra do que a fazer o seu papel, sempre de braço no ar e brandindo culpas e acusações, deprimente, simplesmente deprimente. Não faço a ideia se esta cultura é incutida desde os primórdios da formação. Não tenho visto jogos suficientes nos escalões mais jovens para o poder avaliar. Imagino que possa ser a força do contexto a marcar a principal influência. E ontem era o contexto perfeito para fazer vir ao de cima esse rosário de comportamentos em jogo.
Imagino que lá para dois mil e troca o passo apareçam resultados de inquéritos, algumas irradiações, multas, ou o que quer que seja. Ou talvez não!
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