segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

A PROGRESSIVA NORMALIZAÇÃO DO VOX

 

(As eleições de ontem em Castela e Leão fazem parte de uma crónica anunciada em que a normalização da extrema direita, os problemas de afirmação da liderança do PP, o desgaste de uma governação do PSOE em geometria variável caótica e o enterro de uma formação política que foi promissora mas que sucumbiu às suas próprias debilidades, Ciudadanos, se combinam para definir uma tendência que representa bem a complexidade dos assuntos da governabilidade em Espanha. Mas de toda esta caldeirada explosiva, o que vale a pena essencialmente acompanhar é a progressiva normalização do VOX, que se abalança agora com os resultados obtidos a exigir a presença no Governo Regional, sabe-se lá se a caminho de algo mais vasto a nível nacional …)

Não é minha intenção deliberada especializar este blogue em questões espanholas mas a verdade é que estou cada vez mais ibérico e peninsular. O que se passa aqui ao lado em matéria de tendências é cada vez mais uma premonição de movimentos mais gerais e apesar das diferenças de contexto e de um escudo protetor que nos tem caracterizado, a verdade é que é minha intuição dever seguir as entrelinhas.

A antecipação das eleições em Castela e Leão pode dizer-se que é um efeito imediato do rastilho Isabel Diáz Ayuso que seguiu com êxito estratégia idêntica na Comunidade de Madrid, mostrando a Casado, líder do PP, que não se avança com pusilânimes hesitações mas com determinação.

Os resultados de ontem estão longe de representar um total mimetismo do êxito de Ayuso. Se o objetivo era cilindrar o Ciudadanos, confirmando que a breve trecho se transformará em espécie de vitrina, a antecipação foi um êxito total, já que o partido de Arrimadas está confinado aos 4,5% e a um deputado. Mas a antecipação eleitoral adensou os fantasmas que se abatem sobre a cabeça de Casado. O VOX avança para um peso leitoral de 17,6% apropriando 13 deputados e a sua liderança fala grosso e exige a participação no Governo Regional. A União do Povo Leonês que aspira à formação de uma Comunidade Autónoma quedou-se pelos 4,3% com 3 deputados e a tão badalada Espanha esvaziada, representada pelo movimento Soria YA, não foi além dos 1,5% mas surpreendentemente também com 3 deputados. O PSOE perde deputados embora fique próximo do PP (30,0% contra 31,4%) e o Unidos Podemos vai caminhando para o buraco com 1,5% e 3 deputados.

Do ponto de vista político, a antecipação das eleições em Castela e Leão anuncia em parte o que se desenhará em termos de complexidade a nível da Espanha como um todo. O PSOE começa a padecer dos efeitos da sua caótica geometria variável no Parlamento e agarra-se cada vez mais à ideia de que o PP ficará refém do VOX, procurando assim fixar o seu eleitorado em função daquela ameaça. Não imagino por quanto tempo esse argumento de proteção poderá funcionar. Até porque, em sentido contrário, progredirá inexoravelmente a normalização da extrema-direita em termos de presença na governação. Não parece ser já possível a agilização de aproximações PSOE-PP para isolar o VOX. Não só a votação deste começa a impressionar produzindo o inevitável efeito da adesão por contágio, como a acrimónia entre os dois partidos foi longe de mais para suscitar alguma cirurgia plástica de cariz político. E não esqueçamos que a liderança do PP está ela própria representada na equação. A fogosa e mediática Ayuso já percebeu que o Poder pode estar ali ao alcance, já mostrou que as alianças com o VOX não a incomodam e Casado pode ter um inferno entre portas.

Ou seja, aqui ao lado, as tendências de recomposição política estão ao rubro e podem anunciar coisas mais vastas. Valha-nos o nosso escudo protetor.

Por isso, este blogue tem andado por aqui e justificadamente, creio eu.

 

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