sábado, 26 de fevereiro de 2022

DA HISTÓRIA RUSSO-UCRANIANA E SEU REVISIONISMO

(Emilio Giannelli, http://www.corriere.it)

(Peter Brookes, http://www.thetimes.co.uk) 

Putin é indubitavelmente um obstinado e paranoico criminoso que age com a pretensão essencial de deixar o seu nome na História a qualquer preço. Mas, não me canso de insisto, essa cristalina evidência não conflitua com outra(s) que igualmente concorrem para uma rigorosa explicação dos fundamentos e do alcance da tragédia neste momento em curso em terras ucranianas.

 

O longo discurso de Putin ao País, e ao mundo, aquando do início da intervenção militar russa tem vindo a seu maioritariamente apontado no Ocidente como lapidar em relação ao grau de revisionismo histórico de que enferma a visão apresentada por Putin. E, contudo, Putin não se deixou ali impressionar nem pela sua associação a um qualquer novo Ialta em que desempenhasse todas as funções relevantes nem pela sua junção aos heróis do marxismo-leninismo que inspiraram, designadamente, a revolução de 1917; porque, na realidade, é preciso ler bem e muito objetivamente aquele discurso (onde as acusações despropositadas e ridículas mais não são do que meras formalidades subsidiárias e propagandísticas para povo ouvir, ao invés de alguns pressupostos que não deixam de ser verdadeiros no plano respeitante ao tratamento sucessivamente dado à Ucrânia), tanto quanto importa que não se escamoteiem o conjunto de responsabilidades que as potências do chamado “mundo livre” tiveram no estado a que as coisas chegaram (logo à saída da implosão soviética, no decurso das subsequentes relações com as nações daquele espaço e com a Rússia em particular, no tocante às decisões e propostas entretanto tomadas e avançadas, no quadro da “revolução ucraniana” de 2014 e da gestão do “protocolo de Minsk”).

 

Nada disto justifica, dir-se-á e com a devida razão de ser, as escolhas de Putin e os seus atropelos à lei internacional (fazendo dele um novo “eixo do mal” e a desgraça que o mundo dispensava para suceder ao coronavírus), mas teremos também de convir que a História só nos pode servir lições úteis se apropriadamente conhecida e interpretada em todos os seus complexos e labirínticos contornos.



(Agustin Sciammarella, http://elpais.com)

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