quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

RECOMENDA-SE MAIS PRUDÊNCIA A MARCELO


(Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)

Não foi especialmente glosada no nosso espaço público a falta de sentido do discurso presidencial aquando da sua (compreensível mas precipitada) receção aos bicampeões europeus de futsal. Sobretudo na medida em que Marcelo aproveitou os imensos microfones disponíveis e uma audiência particularmente ampliada para... zás, aqui vai disto. E isto foi a assimilação, bastante deficientemente justificada, do futsal ao País, declarando-o exemplo “inspirador”. Mais coisa, menos coisa, assim falou: “Estamos a entrar numa fase em que temos à nossa disposição, não propriamente aquilo que se tem dito que é o paraíso ao virar da esquina, mas temos muitos fundos europeus. É verdade, é fundamental que sejam muito bem utilizados, a tempo, com rigor, com transparência, com profissionalismo, eficiência, eficácia. Também aqui, não temos mais tempo para além do apito final, do termo de utilização dos fundos, não temos mais fundos, ou ganhamos ou perdemos, como aconteceu convosco”. Ou, numa mais breve síntese: “É uma boa inspiração para o período em que estamos a entrar aquilo que foi a vossa vitória. Temos de aproveitar até ao limite todos os fundos. Aqui não há descontos, não vai haver descontos, o que não for aproveitado dentro do prazo já não é aproveitável. Estão a ver como o futsal pode ser inspirador para todo o País.” Estes recados, tão desajeitadamente produzidos no meio daquele ambiente de festa e perante a perplexidade de jogadores, selecionador e dirigentes, traduzem certamente algo que na sua essência se desconhece, trate-se de uma súbita obsessão pelo rigor na aplicação de um PRR generoso (e que já se percebeu ir ser dificilmente controlável por Belém na respetiva execução) ou de apalpadelas em relação a uma preocupação ainda não devidamente digerida à nova realidade de uma maioria absoluta. Em qualquer caso, Marcelo tem de ter cuidado na exploração que faz destas tendencialmente mais raras oportunidades de palco, já que um ponto são as selfies e as falas permanentes e destemperadas e outro ponto, bem diferente, são aproximações lamentavelmente interpretáveis como puros sinais de perda...

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