Com a decisão de hoje por parte da competente instância do Congresso espanhol no sentido de recusar as alegações do PP, consumaram-se os efeitos daquela que já foi denominada, por alguns dos próprios dirigentes daquele partido, “a cagada da legislatura” (embora elas não tenham escasseado desde a investidura). O protagonista do incidente foi um deputado por Cáceres, Alberto Casero de seu nome (a cara surge na imagem acima), que, ao invés do que a imagem algo aparvalhada sugere, parece até ser um homem relativamente bem colocado e próximo das altas instâncias do poder partidário. A dita “barraca” já aqui foi devidamente abordada pelo meu “espanholado” colega, sendo designadamente de sublinhar a espécie de lei de Murphy que atingiu o processo de votação da reforma laboral do país vizinho, documento que adquiriu uma especial importância por ter sido parte das contrapartidas associadas ao acesso ao PRR por parte de Espanha: recordo, entre outros aspetos, que a negociação foi difícil, sofreu o revés do não de dois aliados habituais do governo (a ERC - “Esquerra Republicana de Catalunya” e o PNV- “Partido Nacionalista Vasco”), convencidos de que poderiam votar contra sem grandes estragos, e só pareceu positivamente concluída com sucesso após a imprevisível decisão do fragilizado “Ciudadanos” no sentido de se associar ao sim ao diploma, momento em que o voto dado por adquirido da UPN (“Unión del Pueblo Navarro”) se começava a revelar não concretizável por uma “traição” de última hora dos seus dois deputados; quando o suspense dominava mas a Direita (PP e Vox) já se preparava para cantar vitória (ou melhor, celebrar a derrota de Sánchez), um engano registado no voto virtual de Casero a partir de casa (tendo aliás o dito cometido, naquele dia, quatro e não apenas um erro de votação) veio salvar involuntariamente a situação para o lado do governo com um 175-174. Com a presidente do Congresso, Meritxell Batet, a não autorizar que um “destroçado” Casero pudesse votar novamente de modo presencial, um recurso do PP tornou-se a escapatória ainda praticável mas foi hoje definitivamente rechaçado por irrevogabilidade de um “erro material” emitido em termos válidos e ausência de precedentes ou de razões jurídicas ou regulamentares permissivas de uma “segunda oportunidade”. A política espanhola está assim, entre o inesperado, o ocasional e o ensandecido; ao mesmo tempo que só me apetece aqui deixar uma interrogação quanto ao que se berraria por cá se coisas destas acontecessem na nossa vida parlamentar!
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022
“A CAGADA DA LEGISLATURA”
(Julian Javier Montuega, https://www.capitalnoroeste.es)
(Ricardo Martínez, http://www.elmundo.es)
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