Uma querida amiga que foi também “menina de Odivelas”, e por lá sofreu em dobro relativamente aos comuns jovens do seu tempo (elas eram, por regra, filhas de militares mobilizados para a guerra em África) a castrante estupidez disciplinadora e os valores descabidos do regime salazarista, ofereceu-me este romance (“O Colégio ― Histórias de uma menina de Odivelas”) assinado por uma sua ex-colega mais nova (a já relativamente consagrada escritora Cristina Almeida Serôdio (CAS), autora do excelente “A Casa das Tias” (2017) que foi finalista do Prémio Autores SPA para melhor livro de ficção narrativa). A dedicatória da oferta incluía a vontade de uma partilha mais próxima relativamente ao que foram aqueles tempos e aquelas inenarráveis manifestações de cegueira e autoritarismo. “O Colégio” vale bem a pena de uma leitura, quer pela eficaz simplicidade dos seus textos breves quer pelo modo como CAS consegue recriar aqueles anos de infância interrompida e adolescência sofrida, as quebras experimentadas nas relações familiares e as correspondentes “orfandades de circunstância”, a austeridade do internato e os comportamentos sub-repticiamente inculcados, os momentos desavindos e o surgimento de amizades duradouras. Cito a autora quando, a dada altura do seu escrito, refere que “vinha do colégio o medo que tinha das zangas dos outros sem razão que percebesse e a culpa sem factos que a tornava incapaz de se dar tempo a querer” e que “só agora percebia que as melhores professoras foram a salvação porque eram janelas para a normalidade do mundo”.
domingo, 6 de fevereiro de 2022
O COLÉGIO
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Bom dia. Muito gosto de saber que leu com interesse o livro que escrevi e muito lhe agradeço a apreciação e divulgação.
ResponderEliminarCristina A. Serôdio